sexta-feira, 27 de maio de 2016

No dia em que emudeceste a cidade

Paolo Barzman

No dia em que emudeceste a cidade
um sonho atormentou-me a noite

havia uma margem
onde uma frondosa árvore
em desespero
tentava abraçar o vento

e o vento passava e ria
intocável

um pássaro trazia a manhã à janela de um rio
onde tu banhavas o verbo
- ventre do poema
mais secreto e indomável

e a vida, meu bem
esse fogo
tão bendito quanto maldito
ia secando todas as águas...

trouxeste o tempo para dar de beber aos peixes
- esse quase nada onde quase tudo assenta -
e um muro de espelhos ergueu-se!

ao olhar o meu reflexo no muro
arranquei os olhos
para não voltar a ver-me

eu era o germe do silêncio
que chorava versos mudos
condenado a roer a memória mais funda
até que o verbo... já não doa.

Autor : Sónia M
http://soniagmicaelo.blogspot.pt/

1 comentário:

Sónia M. disse...

Deixo um beijo...
Grata.