domingo, 15 de setembro de 2013

Por ti

Inna Narkevich


Por ti
Esperei tardes prolongadas
com os ossos enregelados
e o coração magoado.

E quando o declinar do dia
ameaçava tempestade
inventei poentes
alimentei mágoas
forjei fragrâncias nos sargaços .

Aguardei

Um abraço que não chegou
Um beijo que não aconteceu

E nas esperas envelheci
Envelheci mais que as noites, as esperas, os dias

Os abraços não dados
Os beijos não permutados.

Hoje quando a maresia trouxe com ela
resquícios do teu perfume
constatei, pesarosa
que já nada havia para esperar.
.
BeatriceMar



domingo, 8 de setembro de 2013

Detalhes

Linda Stokes



                                 Como se ainda estivesses a olhar,
o poente, nos caminhos do sul,
as mãos nas minhas,
e a barreira do silêncio em nós.

As palavras que não dissemos
a lágrima que eu escondi.
O momento em sonho iludido,
e o fim do desejo,
a planar na tarde.
.
BeatriceMar

domingo, 1 de setembro de 2013

Fogo

Matthew Scherfenberg -

Nunca aprendi a apagar o fogo,
quando por vezes o sinto,
entranhar-se em mim.

Diz-me a brisa 
que bastava somente 
um beijo a planar o corpo



BeatriceM 2013/09/01

domingo, 25 de agosto de 2013

o pintor de aguarelas

Emerico Toth



Já não sinto a cidade
mas
um pássaro
arredio
sonhador
e
de olhos
salpicados de giz
segredou-me
que ela ainda te sente.

E

Saber-te a pintar
em aguarelas difusas
ou por vezes rubras
cinzentas
ou mesmo sem cores
por agora
 é  suficiente.
.
Beatrice M 2013-08-22

domingo, 18 de agosto de 2013

Turbulência



Ando a fingir-me de sol…passeio-me na noite. Passos esquisitos, sem luz.
Desorientados…sem rumo. Não sinto  cores do momento.
Estou num barco com o leme quebrado, destruído nas trevas das torrentes assassinas,
nos espectros de humanos sequiosos de poder e lugar além do sol.
Intempéries agitam-se.
Espreito,
uma serenidade que eu a tudo o custo queria minha.
Luto
E já não consigo prender
Ando sem orientação
Olvidada de todos e tudo

Por vezes – penso- até de TI
.
BeatriceMar 2013/08/18

domingo, 11 de agosto de 2013

as horas




as horas que perdi a esperar-te, não foram perdidas.  sempre foram compensadas, pelo brilho dos teus olhos ao chegar.

desde Junho que não te espero mais  e sobra-me as horas que perdia.

sem perder.

não sei que faço com elas, nem sei que faço da solidão em mim.

BeatriceM 11/08/2013

domingo, 4 de agosto de 2013

Partida


Não disseste, que a morte era uma
pétala que cai, em forma de vida
que fenece,
apenas te foste, num murmúrio e sem alardes
partiste simplesmente,
no canto das aves,
numa jornada sem retorno.
.
BeatriceMar

domingo, 28 de julho de 2013

Estados de alma



Tenho em mim um oceano de afetos.
Por vezes sinto-me estrangulada de solidão.
Desdobro-me em mutismos.
E sou apenas mais um autómato.
No meio da multidão.
.
BeatriceMar 28-07-2013



Imagem . 今井一彦

domingo, 21 de julho de 2013

Parti




Parti num dia de Setembro. Quase Outubro
Num fim de tarde com um saco na mão
Fui. Com umas sandálias que me magoavam os pés doridos, as únicas que tinha
Deixei-te na casa grande
Sabia que alguém trataria de ti
O jardim estava cheio de açucenas
O sótão estava limpo e a minha cama ficou vazia
Para sempre
Mais ninguém voltou a dormir naquela cama
Senão tu
Voltei algumas vezes
Depois, menos, cada vez menos
E depois perdi a vontade de regressar
Disseram-me que depois de eu partir
Nunca mais foste o mesmo
Tinhas ficado estranho
Agressivo, e que dormias sempre no sótão
Do lado direito em cima da minha cama
Como se me esperasses

Dizem que nunca mais foste o mesmo gato
Nem tu
Nem a casa

Autor : BeatriceMar


domingo, 7 de julho de 2013

Resisto

Resisto 
Quase moribunda 
A exalar um ultimo suspiro 
A contorcer o destino 
Violento 
Fleumático 

Resisto 
Exaurida 
Escondo-me em palavras 
Que não digo 
Que calo 
E me sufoca a laringe 

Resisto 
Aqui onde o sonho não existe 
Onde o vento me acaricia o rosto 
E onde eu ainda abraço a esperança 
Dormente 
.
BeatriceMar 2013-07-07

domingo, 30 de junho de 2013

Tumulto




Gostava de saber dizer-te o que me vai na alma, e endireitar a minha cabeça no teu corpo, assim, a sentir o cheiro que brota da tua pele, e sentir-me serena e sem medo. Mas o meu medo é só meu. Tu não tens medo. Não necessitas. Tudo para ti é relativo. É dia novo dia vivido com adrenalina e sempre no fio da linha. Sem reservas. Sem conjecturas. Sem correntes. Eu desejava ser como tu. E não sou. Nunca serei. Ainda penso em ti. Ainda sinto saudades de ti. E sei que neste exacto momento. Tu nem sabes nem te lembras mais de mim. E que se um dia adormeceste no meu corpo. Hoje outro corpo deve adormecer no teu. E eu estou a pensar que os pássaros vão e voltam, e que tu não vais voltar. Porque na ânsia de viver tu ainda não viveste e quiçá já morreste na planura de algum voo mais arriscado.

BeatriceM 30-06-2013
Foto Carlton Clare

domingo, 23 de junho de 2013

estado de alma


Todas as flores são belas. Não sei se há alguma feia, mas prefiro pensar que há apenas flores menos belas. É isso!

Hoje apetece-me receber flores. Com um cartão a dizer que ainda se lembram de mim.

Ninguém me vai dar flores é certo. Também ninguém sabe que eu pensava em receber hoje flores.

Se vier sol já é bom!

BeatriceMar6


Foto erih

domingo, 16 de junho de 2013

...



Lê , são estes os nomes das coisas que
deixaste – eu, livros, o teu perfume
espalhado pelo quarto; sonhos pela
metade e dor em dobro, beijos por
todo o corpo como cortes profundos
que nunca vão sarar; e livros, saudade,
a chave de uma casa que nunca foi a
nossa, um roupão de flanela azul que
tenho vestido enquanto faço esta lista:
livros, risos que não consigo arrumar,
e raiva – um vaso de orquídeas que
amavas tanto sem eu saber porquê e
que talvez por isso não voltei a regar; e
livros, a cama desfeita por tantos dias,
uma carta sobre a tua almofada e tanto
desgosto, tanta solidão; e numa gaveta
dois bilhetes para um filme de amor que
não viste comigo, e mais livros, e também
uma camisa desbotada com que durmo
de noite para estar mais perto de ti; e, por
todo o lado, livros, tantos livros, tantas
palavras que nunca me disseste antes da
carta que escreveste nessa manhã, e eu,
eu que ainda acredito que vais voltar, que

voltas, mesmo que seja só pelos teus livros.
.
Autor : Maria do Rosário Pedreira

domingo, 9 de junho de 2013

anoitece


anoitece
talvez sejas o mar e
eu vá descendo pelas pernas
azuis do teu corpo, como
a bola de fogo que se introduz mais dentro
nas linhas demasiadas do caderno
ou nos recônditos músculos
do oceano.


Autor : João Ricardo Lopes
In : a pedra que chora como palavras (2001)
Foto : katia chausheva


domingo, 2 de junho de 2013

(...)



(...) Por vezes é preciso esquecer para poder continuar. Esquecer, ou pelo menos afastar para um lugar onde não andem à solta, fazendo estragos, provocando sentimentos à deriva, experiências que nos fazem temer que não somos nós que temos mão sobre a vida, mas ela que tem a sua mão sobre nós.(...)


pedro paixão in «a cidade depois»