quarta-feira, 11 de janeiro de 2023

Afirmas que brigámos

Afirmas que brigámos. Que foi grave.
Que o que dissemos já não tem perdão.
Que vais deixar aí a tua chave
e vais à cave içar o teu malão.

Mas como destrinçar os nossos bens?
Que livro? Que lembranças? Que papel?
Os meus olhos, bem vês, és tu que os tens.
Não te devolvo - é minha! - a tua pele.

Achei ali um sonho muito velho,
não sei se o queres levar, já está no fio.
E o teu casaco roto, aquele vermelho
que eu costumo vestir quando está frio?

E a planta que eu comprei e tu regavas?
E o sol que dá no quarto de manhã?
É meu o teu cachorro que eu tratava?
É teu o meu canteiro de hortelã?

A qual de nós pertence este destino?
Este beijo era meu? Ou já não era?
E o que faço das praias que não vimos?
Das marés que estão lá à nossa espera?

Dividimos ao meio as madrugadas?
E a falésia das tardes de Novembro?
E as sonatas que ouvimos de mãos dadas?

De quem é esta briga? Não me lembro.

Autor : Rosa Lobato Faria
Imagem : David Talley

3 comentários:

- R y k @ r d o - disse...

Foto e poema em perfeita harmonia poética. Gostei muito de ver e ler.
.
Saudações poéticas
.
Pensamentos e Devaneios Poéticos
.

Cidália Ferreira disse...

A Rosa Lobato Faria Um Enorme escritora.
Adoro todos os seus escritos!! Obrigada
.
Quando um gesto de carinho surpreende...
.
Beijos. Boa noite.

brancas nuvens negras disse...

Já muitos de nós passaram por isso.