quarta-feira, 9 de janeiro de 2019

Silêncios

Richard Blunt

 Encontramos a praia deserta. Com os olhares fugidios,
 ensaiamos alguma conversa de mistérios abertos
 na seriedade do momento musicado pelas ondas do mar
e pelos gritos das gaivotas tristes, mas brancas.
 O silêncio está sempre ocupado, mesmo quando não há palavras;
 portanto, as reticências podem prolongar-se em suspiro longo,
 os pontos finais deitar-se ao abandono do ar fresco.
 A manhã parece cheia de vazios repletos de sensações
 e as palavras vão ganhando agilidade, ritmo, alguma emoção,
 enquanto os silêncios de mar calam brisas ainda húmidas.
 As gaivotas alinham-se agora, sentadas na areia molhada,
 enquanto batem os corações que as olham, descompassados.
 Sentimos o ar tão quente, que queremos ter asas também,
 voar contra o vento de penas leves em desalinho.
Enterramos longe as pesadas penas de ontem.
 Ainda há pouco o tempo parou em todos os relógios.
E nós deixámos.

Autor : Isabel Solano

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