sexta-feira, 28 de outubro de 2016

Retrato de Mulher Triste

Vestiu-se para um baile que não há.
Sentou-se com suas últimas jóias.
E olha para o lado, imóvel.

Está vendo os salões que se acabaram,
embala-se em valsas que não dançou,
levemente sorri para um homem.
O homem que não existiu.

Se alguém lhe disser que sonha,
levantará com desdém o arco das sobrancelhas,
Pois jamais se viveu com tanta plenitude.

Mas para falar de sua vida
tem de abaixar as quase infantis pestanas,
e esperar que se apaguem duas infinitas lágrimas.

Autor : Cecília Meireles
in 'Poemas (1942-1959)'

3 comentários:

Majo Dutra disse...

Bela escolha, Beatrice,
Beijinhos.
~~~

Mar Arável disse...

Boa memória
Bj

LuísM Castanheira disse...

no imaginário, o baile da solidão, nas festas de salão...
memórias plasmadas do que poderia ser, não sendo, e é.
mto belo.