Tu ficaste com ela por medo de dor,
Eu fui o refúgio, o rastro do amor.
Prometemos nada, vivemos demais,
E agora estás longe… e eu fico nos “vais”.
Chamaste de “coisa que a gente não diz”,
Mas no fundo sabias: contigo fui raiz.
Fui toque, fui fogo, fui riso no escuro,
E tu foste o erro mais doce e mais puro.
Dissemos que era só pra guardar,
Mas há corpos que sabem quando é pra ficar.
Ficou na pele, no cheiro, na voz,
Ficou esse “nós” que vive sem nós.
Tu pensas demais, eu sinto por dois,
Mas nunca fui tua — e foste meu depois.
Na alma, no peito, nos gestos calados,
Fomos o certo nos tempos errados.
E se um dia perderes o medo de amar,
Quando já não quiseres só aproveitar,
Talvez nos cruzemos sem peso, sem dor…
E se ainda houver tempo, talvez seja amor.
Disseste que havia carinho especial,
Daqueles que ficam, sem ser normal.
Mas foste embora sem te despedir,
Com medo de tudo o que podias sentir.
Tu gostavas de mim, eu via no olhar,
Na forma que vinhas, na pressa de ficar.
Nos teus olhos cansados, vi mais do que vão,
Vi o desejo calado, a fuga da mão.
Tiravas meus cabelos loiros do colchão,
e ficavas em mim, sem pedir permissão.
Ali, o teu corpo dizia o que o medo calou,
e no fundo dos olhos, era amor que ficou.
Ela tem o teu lado, os teus dias marcados,
Mas eu fui o instante dos passos trocados.
O tempo contigo sabia parar,
Mesmo sem nome, sem lugar pra ficar.
Agora estás longe, distante e calado,
Mas o que vivemos não foi inventado.
E se fosse noutra vida, sem essa prisão,
Talvez fosses meu — de corpo e coração.
Autor : Raquel Gonçalves
Imagem : Brooke Shaden
1 comentário:
"Somos feitos de pedaços".
Que belo trabalho de linguagem.
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