sábado, 5 de agosto de 2023

Não me peças sorrisos

Não me exijas glórias
que ainda transpiro
os ais
dos feridos nas batalhas

Não me exijas glórias
que sou eu o soldado desconhecido
da humanidade

As honras cabem aos generais

A minha glória
é tudo o que padeço
e que sofri
Os meus sorrisos
tudo o que chorei

Nem sorrisos nem glória

Apenas um rosto duro
de quem constrói a estrada
pedra após pedra
em terreno difícil

Um rosto triste
pelo tanto esforço perdido
- o esforço dos tenazes que se cansam
á tarde
depois do trabalho

Uma cabeça sem louros
porque não me encontro por ora
no catálogo das glórias humanas

Não me descobri na vida
e selvas desbravadas
escondem os caminhos
por que hei-de passar

Mas hei-de encontrá-los
e segui-los
seja qual for o preço

Então
num novo catálogo
mostrar-te-ei o meu rosto
coroado de ramos de palmeira

E terei para ti
os sorrisos que me pedes.

Autor :António Agostinho Neto
Imagem : David Talley

3 comentários:

" R y k @ r d o " disse...

Simplesmente brilhante. Amei a foto e o poema. Feliz fim de semana

brancas nuvens negras disse...

Uma faceta pouco conhecida desse herói angolano que a história desse jovem país registará para sempre.

Dan André disse...

Nossa, que poesia bela e visceral. Imaginei Maria Bethania declamando esse poema, rs. Obrigado por compartilhar.

Abraços fraternos
Dan
https://gagopoetico.blogspot.com/2023/08/toda-forma-de-amor.html