quinta-feira, 10 de março de 2022

Este silêncio de já não termos palavras


Cheguei a ter medo de te perder,
tu não chegaste sequer a ter medo.
Este silêncio de já não termos palavras
ouve-se nas outras palavras que trocamos.

Miserável mundo nosso e alheio,
igual ao que todos disseram da sua época,
e pior, porque este vivemos nós
e conhecemos nós, cada um conforme pode.

Já morrerem os ídolos todos da infância
e os da adolescência vão a caminho,
sobrevivente é o teu olhar cego
(hoje há já só um dos Righteous Brothers).

Na feira de velharias uma caixa
para tabaco com uma rosa verde.
Tem o preço ainda em escudos, uma falha
num dos cantos, uma pequena cruz de cal.

Permaneces aí, à lareira, lendo livros vivos
e o seu turbilhão de palavras profundas.
Nunca mais chega o medo de nos perdermos,
eco um do outro em ricochete de silêncios.

Autor : Helder Moura Pereira
Imagem : Aykut Aydogdu

3 comentários:

- R y k @ r d o - disse...

Li em silêncio e, fascinado com tão belo poema, em silêncio me deixei ficar.
.
Saudações poéticas
.
Pensamentos e Devaneios Poéticos
.

Cidália Ferreira disse...

Um poema brilhante!!
~~
Coisas de uma Vida

Beijos, boa tarde.

Paula Saraiva disse...

Poema lindíssimo que tanto me encantou ler.
Boa noite.
Beijinhos