sábado, 10 de abril de 2021

Quatro e meia da manhã


os barulhos do mundo
com passarinhos vermelhos,
são quatro e meia da
manhã,
são sempre

quatro e meia da manhã,
e eu escuto
meus amigos:
os lixeiros
e os ladrões
e gatos sonhando com
minhocas,
e minhocas sonhando
os ossos
do meu amor,
e eu não posso dormir
e logo vai amanhecer,
os trabalhadores vão se levantar
e eles vão procurar por mim
no estaleiro e dirão:
“ele tá bêbado de novo”,
mas eu estarei adormecido,
finalmente, no meio das garrafas e
da luz do sol,
toda a escuridão acabada,
os braços abertos como
uma cruz,
os passarinhos vermelhos
voando,
voando,
rosas se abrindo no fumo e
como algo esfaqueado
e cicatrizando,
como 40 páginas de um romance ruim,
um sorriso bem na
minha cara de idiota.

Autor : Charles Bukowski
(Tradução: Jorge Wanderley)
Imagem -Ane Sctollin

2 comentários:

" R y k @ r d o " disse...

São maravilhosos os trocadilhos entre palavras e versos. Profundo.
.
Bom fim de semana. Abraço poético.
.
Pensamentos e Devaneios Poéticos
.

brancas nuvens negras disse...

Uma escolha de quem é conhecedora. Bukowski carismático, maldito, brutal, verdadeiro.