sexta-feira, 12 de março de 2021

Honra-me com teus nadas.

 

Honra-me com teus nadas.
Traduz meu passo
De maneira que eu nunca me perceba.
Confunde estas linhas que te escrevo
Como se um brejeiro escoliasta
Resolvesse
Brincar a morte de seu próprio texto.
Dá-me pobreza e fealdade e medo.
E desterro de todas as respostas
Que dariam luz
A meu eterno entendimento cego.
Dá-me tristes joelhos.
Para que eu possa fincá-los num mínimo de terra
E ali permanecer o teu mais esquecido prisioneiro.
Dá-me mudez. E andar desordenado. Nenhum cão.
Tu sabes que amo os animais
Por isso me sentiria aliviado. E de ti, Sem Nome
Não desejo alívio. Apenas estreitez e fardo.
Talvez assim te encantes de tão farta nudez.
Talvez assim me ames: desnudo até o osso
Igual a um morto.

Autor: Hilda Hilst

3 comentários:

" R y k @ r d o " disse...


Poeticamente lindíssimo.
.
Cumprimentos poéticos.
Cuide-se
.
Pensamentos e Devaneios Poéticos
.

brancas nuvens negras disse...

Um poema de superior qualidade. Obrigado pela partilha.

Mário Margaride disse...

Belissimo poema! De rara beleza estética!
Parabéns, minha amiga!

Ótimo fim de semana!

Beijinhos!