sexta-feira, 25 de setembro de 2020

Se tu viesses agora

Se tu viesses agora,

Se entrasses àquela porta
e te viesses sentar
mesmo defronte de mim
nesta cadeira vazia
ocupada de silêncio,

E me dissesses bom dia
boa tarde
ou boa noite
(qualquer coisa aconchegada
a anunciar o regresso),

e me sorrisses depois
num compromisso ternura,

Se o gesto da tua mão
recaísse no meu ombro
a atenuar a distância
entre mim e a tua ausência,

Se me desses a entender
que o erro das nossas vidas
não foi acto consumado
e que nada chega ao fim
sem que seja ultrapassado
pelo querer da decisão,

Se tudo isto acontecesse,

Se por milagre
ou loucura
eu agarrasse a lonjuga
e te fizesse mais perto,

com certeza que morria
ou renascia contigo
nesse preciso momento.

Autor :Manuela Amaral
in ""Tempo de Passagem"
Imagem : Viktoria Haack


2 comentários:

" R y k @ r d o " disse...

Por vezes é ensurdecedor o silêncio da solidão. Noutras, a calma que um coração precisa...
.
Feliz fim-de-semana
Abraço

brancas nuvens negras disse...

Muito bonito este poema. Revela que se o outro soubesse como somos capazes de fazer a ponte para a retoma, tudo seria mais fácil.