sexta-feira, 13 de dezembro de 2019

Se eu morrer de manhã

Se eu morrer de manhã 
abre a janela devagar 
e olha com rigor o dia que não tenho. 

Não me lamentes. Eu não me entristeço: 
ter tido a morte é mais do que mereço 
se nem conheço a noite de que venho. 

Deixa entrar pela casa um pouco de ar 
e um pedaço de céu 
- o único que sei. 

Talvez um pássaro me estenda a asa 
que não saber voar 
foi sempre a minha lei. 

Não busques o meu hálito no espelho. 
Não chames o meu nome que eu não venho 
e do mistério nada te direi. 

Diz que não estou se alguém bater à porta. 
Deixa que eu faça o meu papel de morta 
pois não estar é da morte quanto sei.

Autor : Rosa Lobato Faria
imagem : Alex Stoddard 

2 comentários:

Anónimo disse...

Linda poesia! Intensos versos do inevitável para todos nós.Abraço e um ótimo dia.

Larissa Santos disse...

Uma dos mais belos Poemas da Rosa de Lobato Faria.

Hoje : Tempo incerto numa acalmia que dói

Bjos
Votos de uma óptima noite.