terça-feira, 23 de maio de 2017

(Poema 6 do Ciclo Elementos)

Maja Topcagic

O que dói não são as roturas, o afastamento,
a incapacidade a minar como um cancro
oculto e certeiro. O que dói não é
a pouca solidez com que se disse
esta ou aquela palavra, esta ou aquela frase;
com que se insistiu, apesar de receios vários,
na grotesca encenação do que se previa
muito aquém de qualquer futuro. O que dói
não é a viscosidade das emoções a grafar-se
em algum mapa antecipadamente condenado,
nem tão-pouco a insistência de uma insolúvel
lembrança a fugir. O que dói verdadeiramente
é acordarmos um dia e descobrirmos
que nada disso teve importância alguma.

Autor :  Victor Oliveira Mateus. Gente Dois Reinos
 Fafe: Editora Labirinto, 2013
 p 27 ( Prefácio de Inocência Mata, Texto da Contracapa de José Ángel García Caballero).
.
.

3 comentários:

Majo Dutra disse...

Poema ou prosa poética?
De qualquer modo, coerente

Majo Dutra disse...

Beijinhos
~~~~

LuísM Castanheira disse...

"o que dói

é não poder apagar a tua ausência

e repetir dia a pós dia os mesmos gestos


o que dói

é o teu nome que ficou como mendigo

descoberto em cada esquina dos meus versos


o que dói

é tudo e mais aquilo que desteço

ao tecer para ti novos regressos

daniel faria"


O que doi, Beatrice, é o vazio duma vida
A solidão sem uma razão
Os fantasmas em cada canto.
Mas isso é só divagação...
Sei lá o que doi, minha Amiga.
Porém, este é um poema conseguido, na nascente doutros rios.

Um beijo, Beatrice M