terça-feira, 27 de outubro de 2015

Feminina

Mira Nedyalkova


Não lavei os seios
 pois tinham o calor
 da tua mão.
 Não lavei as mãos
 pois tinham os sons
 do teu corpo.
 Não lavei o corpo
 pois tinha os rastros
 dos teus gestos;
 tinha também, o meu corpo
 a sagrada profanação
 do teu olhar
 que não lavei.
 Nem aqueles lençóis,
 não os lavei,
 nem os espelhos
 que continuam
 onde sempre estiveram:
 porque eles nos viram
 cúmplices, e a paixão,
 no paraíso,
 parece que era.
 Lavei, sim,
 lavei e perfumei
 a alma, em jasmim,
 que é tua, só tua,
 para te esperar
 como se nunca tivesses ido
 a nenhum lugar:
 donde apaguei
 todas as ausências
 que apaguei
 ao teu olhar.


Autor : Soares Feitosa

Sem comentários: