quinta-feira, 9 de junho de 2022

Um dizer ainda puro

Metin Demiralay

imagino que sobre nós virá um céu
de espuma e que, de sol em sol,
uma nova língua nos fará dizer
o que a poeira da nossa boca adiada
soterrou já para lá da mão possível
onde cinzentos abandonamos a flor.
dizes: põe nos meus os teus dedos
e passemos os séculos sem rosto,
apaguemos de nossas casas o barulho
do tempo que ardeu sem luz.
sim, cria comigo esse silêncio
que nos faz nus e em nós acende
o lume das árvores de fruto.
diz-me que há ainda versos por escrever,
que sobra no mundo um dizer ainda puro.

Autor : Vasco Gato

1 comentário:

Cidália Ferreira disse...

Um poema bem interessante!!
.
Quando um olhar se sente perdido.

Beijos. Votos de uma boa noite