quinta-feira, 29 de agosto de 2024

O fogo, o ferro, o futuro

 


Eras um sustento,
eras um segredo,
uma feroz tentativa.

Eras a roupa do corpo
feito estandarte
a caminho de casa
e as tuas mãos metade das minhas.

Eras um fascínio,
eras um fracasso,
eras a chama que nunca te queimou,
o sul, o sufoco,
a madrugada.

Eras um tumulto
de éguas e galgos,
a minha impaciência,
o meu verde vivo.

Eras o que nunca podias,
assombração sem fantasia
descalça e abrigada,
loureiro da Aquitânia.

Eu era o viúvo, o tenebroso,
consolado na água
que de súbito secou.

Eras o que foste,
metáfora do que eu
tanto te quis.

O fogo, o ferro, o futuro.

Autor : Pedro Mexia
Imagem : Katharina Jung

1 comentário:

brancas nuvens negras disse...

Ouço a voz e a respiração do Mexia a dizer o seu poema.