domingo, 27 de janeiro de 2013

o vento lá fora



o vento uiva lá fora, 
(os fantasmas assustam-me)
aterrada de medo e frio
encolho-me debaixo dos lençóis
e penso em ti.


por vezes nem sei se eu que penso em ti
se é o meu corpo, que sente falta do teu.


quantas vezes desejei, que ficasses aqui
a dormir comigo
(e tu nunca podias)
para te abraçar durante a noite 
para me embriagar de ti e sentir-te meu
(que nunca foste).

o vento não dá tréguas 
e eu só quero que a noite acabe
que o temporal se vá
e que o sol brilhe no horizonte
e que as tuas mãos me acariciem
como sombras macias.


por vezes nem sei se sou eu que penso em ti
se é o meu corpo.

.
BeatriceMar


domingo, 20 de janeiro de 2013

arrumações


eu quero lançar para o mar
esta angústia de dias acinzentados
de mágoas embuçadas
de dores auguradas.

esquecer-me de mim
e deitar fora os farrapos
os laços
os medos
e tudo o que me lembrar de mim.

enquanto eu não me metamorfosear
nada mudará
e
eu serei apenas um caco partido

espalhado pelo chão. 
.
Beatrice Mar


domingo, 13 de janeiro de 2013

Do amor impossível

1

Vai e sofre:
Não nos resta senão esta partida
Para o país de lágrimas e névoas
Dentro de cada um de nós.
Vai e esquece:
Nesse outro lado da vida
Das nossas vidas independentes
Talvez nos encontremos juntos
Os dois
2
Se dizes «Vem», amor,
Porque não vou?
Se dizes «Vem»
E sei que o dizes,
Porque me fico longe
A olhar-te, a desejar-te?
Porque não saio de onde estou?
Porque não vou para onde estás?
Se dizes «Vem»
(Eu não me engano, amor)
Porque não vou, meu bem?
Porque não vou?
Ser orgulhoso à tua frente
Fazer-me forte à tua frente
Oprimir-te oprimindo-me
Inquietar-te tornando-me
Inquietamente indiferente?
Amor, porque não vou?
Porque não vou, amor?
Porque não vou?

3

Talvez não seja de ti que eu goste
Mas da outra
Que tão estranhamente contigo se parece.
A outra a quem me não atrevi a amar
A outra por quem falhei
A outra.
Mas este desejar-te e repelir-te
Temer-te como se a outra fosses e adorar-te
Este estar aqui e desejar-me a teu lado
Este paradoxal receio
Isto
Que me faz rasgar os planos arquitectados
E apaga as tintas de todos os quadros-só-tu-e-eu que idealizo,
Isto
Como explicar tudo isto
Se tu não és a outra?
Talvez seja a outra que eu adore.
Mas tu pareces-te tão estranhamente com ela
Tens tanto dela, dessa outra, tanto,
Que talvez sejas a outra
Aquela a quem me não atrevi a amar
Aquela por quem falhei
A outra,
Tu.

4
Não te possuí
Nem sei se o quis.
(Contudo
A impressão de te ter perdido!)
Adorei as curvas do teu corpo infantil
Mas não as quis, não as amei pròpriamente,
Mas à sua frescura
-Frescura doce dos frutos que amadurecem.
Nada mais eu quis.
(No íntimo,
A impressão de que talvez te
[houvesse querido.)
Se os olhares que me deste e recebi
Ou recebi sem que mos desses
Eram pra mim,
Nada mais quisera do que a sua continuação.
Quantas vezes sentiste
A carícia dos meus olhos no teu corpo
No teu corpo infantil, no esboço
Do teu futuro corpo idealizado!
E quantas vezes cruzaste o meu olhar!
Mas talvez não fossem para mim
Os olhares que encontrei.
Talvez fosse o acaso.
Teu olhar-acaso foi-me esperança por vezes.
Teu olhar-inocência foi-me, por vezes, pedido.
Teu olhar-menina-púdica foi-me, por vezes, tentação.
Mas afinal
Talvez não fosse a ti que eu quis.
Talvez não fosse a ti.
Talvez nem te adorasse.
Talvez nem a tua puberdade me encantasse.
Penso que talvez não tivesse sido nada
Neste momento da partida não-realizada
Da separação de nós
Que nunca fomos nós
Mas eu e tu:
Tu ela, tu alheia, tu distante,
E eu...
Que recolho sem vontade
Os cacos do meu coração partido.
.
Autor : Mário António*


*Mário António Fernandes de Oliveira. Maquela do Zombo, 05/04/1934 - Lisboa, 07/02/1989) Estudos primários e liceais em Angola. Licenciado em Ciências Sociais e Políticas pelo Instituto Superior de Ciências Sociais e Políticas e doutorado em literaturas africanas de língua portuguesa pela Universidade Nova de Lisboa. Foi considerado dissidente pelo MPLA e menosprezado pelo regime angolano. Sua obra foi, injustamente, relegada à segundo plano. Morreu em Portugal em 1989, país onde morou desde 1963.



domingo, 6 de janeiro de 2013

eu entendo



eu entendo porque me alheio de tudo
nesta data
porque detenho as lágrimas que se queriam libertas.

no entanto,
sei que sei,
mas, não tenho coragem de chorar
porque,
se o fizer, tenho medo de não conseguir parar.

se aqui estivesses, tu entenderias
mas tu já não fazes parte deste mundo.

no embalo duma estrela
com a doçura do teu sorriso
foste para o lugar dos anjos.

até um dia!


Beatrice Mar



Selo literário 2013


O Selo Literário 2013 - Leia sempre
foi criado pela blogueira
Érica Bosi


Quem me indicou foi a Ana de http://semti2012.blogspot.pt/http:
que agradeço mas vou fugir às regras 
obrigada!

terça-feira, 1 de janeiro de 2013

....

Banco de Imagenes Gratis

aqui neste esconderijo
oiço as águas do rio
a correr para a foz
sei que perdi tudo, mas que ainda vou a tempo de
colar os cacos que se espalham dentro e fora de mim.

é ano novo e ainda me atrevo a sonhar.

domingo, 30 de dezembro de 2012

Feliz Ano Novo de 2013

Imagenes Gratis para Navidad y Año Nuevo 2013

Desejo um Ano de 2013 cheio de paz e amor a todos os meus amigos/as, aos meus seguidores  e a todos os anónimos que passam por aqui.

Bem hajam!


Fotos de Vino Tinto, Copa y Uvas

domingo, 23 de dezembro de 2012

Feliz Natal

Imagenes Gratis para Navidad y Año Nuevo 2013

Confesso que o natal me faz confusão.   Muitas atitudes (só porque é Natal) que não entendo outras tantas que não compartilho e prefiro ficar quieta e calada e não alinhar em certas coisas, só porque sim, ou porque é socialmente correcto.

Respeito as ideias e os rituais de cada um, mas sou assim e assim me vou manter, confusa.

Mas e como é Natal venho por este meio desejar a todos os meus seguidores e para os leitores que visitam este espaço um

Santo Natal de 2012




Beatrice Mar Imagenes Gratis para Navidad y Año Nuevo 2013

domingo, 16 de dezembro de 2012

Momentos



Sento-me nas escarpas do vento
Nos medos – de mim
Abraço esta solidão do tamanho
De um mundo
Dum futuro incerto
Surda e muda
Afago uma nuvem
E a lágrima que se confunde
Nem a sinto
Olho e
Só esta chuva que cai e
Agita a praça
Me faz sentir que vivo
Ainda
Aqui
E agora.
.
Autor: BeatriceM 16-12-2012

domingo, 9 de dezembro de 2012

Meus passos




Meus passos, caminham.  Nem sempre certos. Errantes, seguem trilhos tortuosos.  Deambulam ruas e vielas.  Noites e dias.  Estão cansados, muito cansados e sonham com um porto que não existe.  E um sorriso se afivela num rosto silencioso que esconde  dor, muita dor . Um dia ainda volto a trabalhar neste (no meu) País.

Meus passos caminham….


BeatriceM 2012.12.09

Foto :gra-fick

domingo, 2 de dezembro de 2012

Detalhes

Bebo 
O frio da tarde entranhado em mim, enquanto olho 
O esvoaçar dos pássaros. 


Vagueio, sobre a areia em andaimes de vento 
Com trilhos dúbios e sem fins concretos 
Ou genuínos. 

Sorvo a vida apenas, e busco o abraço das nuvens 
E a luz do luar, que não demora 
No silêncio da tarde agonizante. 

E agarro o meu sonho, estilhaços de cor e fantasia 
Que ouso preservar como um tesouro 
Só meu com fragmentos de sal e sol.

.
Beatrice



domingo, 25 de novembro de 2012

Um dia



Eu queria escrever sobre uma mulher com um ramo de flores sobre o peito.


Mas a mulher contornou a rua e meteu-se numa viela cheia de papeis espalhados pelo chão. 

Dizem que ela todos os dias vai olhar o mar 
E que atira uma flor, apenas uma, para as águas .

Então eu fico a imaginar a flor, e o mar 
e a dor da mulher. 

Ela passa sempre com os cabelos louros soltos 
e um vestido verde da cor dos seus olhos. 

Um dia eu ainda ofereço uma flor 
para ela colocar nos cabelos. 

Um dia! 

Beatrice

     


domingo, 18 de novembro de 2012

Momentos



Estou doente!  A médica diagnosticou-me um vírus e mandou-me para casa com baixa médica e em repouso absoluto. Regressei dos serviços médicos,meio morta, meio viva, passei no supermercado, comprei leite, ovos, cereais e massas, e meti-me na cama.  Não consigo abrir os olhos, doí-me o corpo todo e vou fica aqui a hibernar até que me passe a virose.  Coloquei o telefone em sinal de vibrar mas já decidi que não vou atender ninguém. Ninguém.  Ninguém também se aplica a ti. Hoje sinto o mar ainda mais perto. Está bravo e eu oiço-o como se estivesse a entrar-me em casa, e sei que é impossível, eu vivo num 4ºandar. O vento assobia lá fora, daqui a nada chove. Também não interessa. Vou ficar aqui a contar a solidão e a tentar massacrar a  dor que se entranhou em mim. Não estou alegre nem triste, estou doente. Não vou atender o telefone. Não vou!

Também nem telefonaste.

BeatriceM 2012-11-15
Foto : anna66

domingo, 11 de novembro de 2012

Eu escrevo amor



Eu escrevo amor. E nem sei porquê. Não sou eu a pessoa certa para escrever amor, e não saber explicar o que é o amor. E tu ris. Ris muito. Olhas – me e só ris, não falas, e no entanto eu seria capaz de dizer que te ouvi dizer baixinho que eu sou o amor, que sou o teu amor e que isso basta. Mas eu sei que nem estás aqui e que não falaste. Deves estar em algum lado a ouvir música ou no cinema com alguém. E eu volto a escrever amor. Assim: AMOR. E acho que estou com uma expressão idiota e cândida e nem sei porque estou aqui a meio da tarde a fazer figura de parva, enquanto tu nem deves lembrar (mais) que eu existo. E eu que estou aqui a escrever amor, como se fosse um filme que se desenrola e onde todos sabem o que significa amor, menos eu. E tu ris e dizes que eu sou lunática. E eu sei que nem falaste que sou eu que oiço vozes e que oiço a tua. E tu nem sabes que eu estou aqui a escrever a palavra amor e que acho que sei o que significa, mas que não sei explicar. Acho que é um subterfúgio apenas para pensar que um dia ainda me dizes. 
És o meu amor!

Beatrice 2012-11-11
Foto : chudzyy

domingo, 4 de novembro de 2012

Vigília



É noite e transporto comigo as agruras do dia. Pesado. Gélido.
Não temo o fim do dia. Apenas a noite me atraiçoa. Sempre!
Escondo-me na utopia e escudo-me do silêncio que se abate nas paredes, brancas,
Sou um pingo de cal. Pinto-me de manhãs claras e sonho. Os olhos abertos.
Sonham.
E desenham um dia a alvorecer cheio de sol.
Um sonho desenhado na noite – em claro.

Autor : BeatriceM 04-11-2012

Foto . Monika Kulińska