sexta-feira, 19 de abril de 2019

Sexta-Feira Santa

larawan ng mahal na araw
.
Neste dia, podemos também meditar, com profundidade, as “sete palavras de Cristo na Cruz” antes de sua morte. É como um testamento d’Ele:

“Pai, perdoa-lhes, pois não sabem o que fazem”;
“Em verdade te digo: hoje estarás comigo no Paraíso”;
“Mulher, eis aí o Teu filho (…) Eis aí a Tua Mãe”;
“Tenho Sede!”;
“Eli, Eli, lema sabachtani? – Meu Deus, Meu Deus, por que Me abandonastes?”;
“Tudo está consumado!”;
“Pai, em tuas mãos entrego o meu Espírito!”.

quinta-feira, 18 de abril de 2019

Paz aos Mortos

Detestei sempre os arquitectos de infinito: 
como é feio fugir quando nos espera a vida! 
Nunca tive saudades do futuro 
e o passado... o passado vivi-o, que fazer?! 
- e não gosto que me ordenem venerá-los 
se eu todo não basto a encher este presente. 

Não tenho remorsos do passado. O que vivi, vivi. 
Tenho, talvez, desprezo 
por esta débil haste que raramente soube 
merecer os dons da vida, 
e se ficava hesitante 
na hora de passar da imaginação à vida. 

As pazadas de terra cobrindo o que já fui 
sabem mal, às vezes; noutros dias 
deliro quando lanço à vala um desses seres tristonhos 
que outrora fui, sem querer. 

Autor : Adolfo Casais Monteiro
in 'Sempre e Sem Fim' 

quarta-feira, 17 de abril de 2019

...

Bogna Patrycja Altman
.

Ou me perco aqui ou fujo daqui. Por uns tempos, preciso de recuar, preciso de ir ver outros caminhos. Preciso de um campo aberto para as lágrimas, preciso da distância de um lugar secreto, de uma memória, se calhar da distância de uma oração. Preciso de me ir embora daqui.

Autor: Maria João Lopo de Carvalho
In Adopta-me

terça-feira, 16 de abril de 2019

O Relógio


"Diante de coisa tão doida
Conservemo-nos serenos

Cada minuto da vida
Nunca é mais, é sempre menos

Ser é apenas uma face
Do não ser, e não do ser

Desde o instante em que se nasce
Já se começa a morrer."


Autor : Cassiano Ricardo
Foto: Kianzoo

domingo, 14 de abril de 2019

Esqueci

Tantas vezes me dizias que me amavas
 E eu sabia que era mentira 
Mas fingia e acreditava
 Porque nada tinha senão as tuas palavras

 Esqueci 
 As esperas a imaginar
 As chegadas 
Que eram apenas partidas 
 Apenas promessas em palavras

 Esqueci

 As datas
 Os locais
 Tanta mentira que quando
 Se transformou em verdade 
Eu pensei que era mentira

 E simplesmente esqueci

E esqueci-te


Autor : BeatriceM reeditado 2012-03-25
Foto: Roberto Liang

sábado, 13 de abril de 2019

O valor das Coisas

Ashraful Arefin
.
O valor das coisas,
Não está no tempo que elas duram,
Mas na intensidade com que acontecem.

Por isso,
Existem momentos inesquecíveis,
Coisas inexplicáveis,
Pessoas incomparáveis.

Autor  : Fernando Pessoa

sexta-feira, 12 de abril de 2019

no gesto

Maksim Kuzin
.
Este é um tempo de silêncio.
Tocam-te apenas.
E no gesto te empobrecem de afeto.
No gesto te consomem.
Tocaram-te, nas tarde, assim como tocaste,
adolescente, a superfície parada de umas águas?
Tens ainda nas mãos a pequena raiz,
A fibra delicada que a si se construía em solidão?

Autor : Hilda Hilst

quinta-feira, 11 de abril de 2019

.

Richard Blunt

Trocaria a memória de todos os beijos que me deste por um único beijo teu. E trocaria até esse beijo pela suspeita de uma saudade tua, de um único beijo que te dei.

Autor : Miguel Esteves Cardoso

quarta-feira, 10 de abril de 2019

Medo

mara light

O medo, essa força misteriosa que nos rouba a alegria e o sonho, devia vir no dicionário como antónimo de vontade.

O medo é como um terreno minado; nunca o atravessamos mesmo que do outro lado estejam todos os nossos desejos.

Autor : Margarida Rebelo Pinto
in "Diário da Tua Ausência"

terça-feira, 9 de abril de 2019

Mamãe eu quero ser de água

Joan Carol
-

Mamãe,

Eu quero ser de prata.

Filho,
Terás muito frio.

Mamãe,
Eu quero ser de água.

Filho,
terás muito frio.

Mamãe,
Borda-me em tua almofada.

Isso sim!
Agora mesmo!

Autor: Gabriel Garcia Lorca

domingo, 7 de abril de 2019

Que fizemos

absentia
.
Que fizemos dos nossos sonhos, e dos
beijos que trocamos, quando nada era proibido
e tu vinhas à noite por entre as árvores da praça
e eu esperava-te no café da esquina.

Hoje somos dois estanhos que se refugiam
na melancolia dos dias, e quando te procuro
com o olhar por entre as árvores da praça
é apenas uma sombra que imagino.

mas nunca és tu

Autor : BeatriceM 2012/04/01

sábado, 6 de abril de 2019

Adeus na hora da largada

Vik Muniz
.
Minha Mãe
(todas as mães negras
cujos filhos partiram)
tu me ensinaste a esperar
como esperaste nas horas difíceis

Mas a vida
matou em mim essa mística esperança

Eu já não espero
sou aquele por quem se espera


Sou eu minha Mãe
a esperança somos nós
os teus filhos
partidos para uma fé que alimenta a vida

Hoje
somos as crianças nuas das sanzalas do mato
os garotos sem escola a jogar a bola de trapos
nos areais ao meio-dia
somos nós mesmos
os contratados a queimar vidas nos cafezais
os homens negros ignorantes
que devem respeitar o homem branco
e temer o rico
somos os teus filhos
dos bairros de pretos
além aonde não chega a luz elétrica
os homens bêbedos a cair
abandonados ao ritmo dum batuque de morte
teus filhos
com fome
com sede
com vergonha de te chamarmos Mãe
com medo de atravessar as ruas
com medo dos homens
nós mesmos

Amanhã
entoaremos hinos à liberdade
quando comemorarmos
a data da abolição desta escravatura

Nós vamos em busca de luz
os teus filhos Mãe
(todas as mães negras
cujos filhos partiram)
Vão em busca de vida.

Autor :  Agostinho Neto

sexta-feira, 5 de abril de 2019

Criação Sonhada

Bogna Patrycja Altman
.
Tanto
tempo a pensar
divino esforço
que adormecendo
deus sonhou consigo:

Sonhou braços e pernas
e cabeças,
sonhou paisagens
de mental pudor
conversas calmas
com o quase feito

E esforçado ficou
e exausto se quedou
ao ver-se assim traído
pela obra criada

Só em sonho

Autor : Ana Luísa Amaral

quarta-feira, 3 de abril de 2019

..

chegas de novo a casa
e guardas do tempo a fuga
marcas outra vez os dias
para abrir feridas

como se viesse dos pássaros a acusação
de não saberes medir esquecimentos

respiras até à dor para não sentires mais nada

Autor : Maria Sousa
em Exercícios para endurecimento de lágrimas
Lisboa: Língua Morta, 1ª edição, 2010, p.26.

terça-feira, 2 de abril de 2019

Oceano Nox

Junto do mar, que erguia gravemente
A trágica voz rouca, enquanto o vento
Passava como o voo dum pensamento
Que busca e hesita, inquieto e intermitente,

Junto do mar sentei-me tristemente,
Olhando o céu pesado e nevoento,
E interroguei, cismando, esse lamento
Que saía das coisas, vagamente…

Que inquieto desejo vos tortura,
Seres elementares, força obscura?
Em volta de que ideia gravitais?

Mas na imensa extensão, onde se esconde
O Inconsciente imortal, só me responde
Um bramido, um queixume, e nada mais…

Autor : Antero de Quental