segunda-feira, 10 de novembro de 2014

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...ando a fugir, mas, ainda não sei porquê...

Foto:Rakowska

domingo, 9 de novembro de 2014

Vieste como um barco carregado de vento, abrindo



António Macedo pintor

Vieste como um barco carregado de vento, abrindo
feridas de espuma pelas ondas. Chegaste tão depressa
que nem pude aguardar-te ou prevenir-me; e só ficaste
o tempo de iludires a arquitectura fria do estaleiro

onde hoje me sentei a perguntar como foi que partiste,
se partiste,
que dentro de mim se acanham as certezas e
tu vais sempre ardendo, embora como um lume
de cera, lento e brando, que já não derrama calor.

Tenho os olhos azuis de tanto os ter lançado ao mar
o dia inteiro, como os pescadores fazem com as redes;
e não existe no mundo cegueira pior do que a minha:
o frio do horizonte começou ainda agora a oscilar,
exausto de me ver entre as mulheres que se passeiam
no cais como se transportassem no corpo o vaivém
dos barcos. Dizem-me os seus passos

que vale a pena esperar, porque as ondas acabam
sempre por quebrar-se junto das margens. Mas eu sei
que o meu mar está cercado de litorais, que é tarde
para quase tudo. Por isso, vou para casa

e aguardo os sonhos, pontuais como a noite.


Autor : Maria do Rosário Pedreira
in Poesia Reunida

segunda-feira, 3 de novembro de 2014

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... e todas as manhãs eu canto com os passáros aquele poema que ainda não li e sei que (um dia ) tu o escreveste para mim.
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Foto:unseen

domingo, 26 de outubro de 2014

simplicidade


lembro de quando tudo era simples,
e o simples deixou de existir,
porque também nós matamos a simplicidade.
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BeatriceMar 2014-04-21

domingo, 12 de outubro de 2014

hoje

Taylor Marie McCormick

hoje,
neste dia balsamizado de outono,
lanço no voo dos pássaros,
todos os sonhos,
que amontoei, e assim
uma parte de mim,
sobrevoará o país dos sonhos.

se calhar,
talvez,na próxima primavera, 
talvez,
os pássaros me tragam réstias de uma realidade,
em que os sonhos brilhem novamente,
com o seu chilrear em forma de uma sinfonia de Beethoven.
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BeatriceMar

domingo, 28 de setembro de 2014

Desejo

rosie hardy

o corpo descaído,
a melancolia na tarde,
entranhada na epiderme,
a água salgada,
encharcada no corpo lasso,
o fogo cérceo,
a percorrer desejos,
indizíveis.
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BeatriceMar 2014-09-27

domingo, 21 de setembro de 2014

o livro

O livro foi arrumado,para ser esquecido 
na  prateleira mais alta da estante,
da biblioteca.

Inacessível, assim ficou 
olvidado à espera de ser lido,
e deslindado.

E assim ficou anos e anos,
à mercê,
das gerações que se sucederam.

Muito tempo depois,
recebi-o como herança,
e só hoje  eu o descobri.

O livro é meu,
e foi escrito por mim,
há muitos, muitos anos, atrás.

BeatriceMar
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domingo, 14 de setembro de 2014

pássaros nas nuvens

Elena "Kassandra" Vizerskaya

se um dia sentires a minha falta, olha para o céu
à procura de um pássaro,
eu voei com eles,  e nem sei se volto.
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BeatriceMar

domingo, 31 de agosto de 2014

Fim de tarde


Deixo-me acorrentar, neste fim de tarde,
a um fio ténue de esperança,
preso aos limites que impus,
nesta minha mania,
de esboçar horizontes.

A tarde encanta-me,
com as suas performances,
e eu insisto qual timoneiro,
sem experiência,
a conduzir este barco coberto de luz,
num mar que não conheço.
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BeatriceMar

domingo, 17 de agosto de 2014

flores brancas na entrada


coloquei flores brancas no hall da entrada
lembram a paz 
 e o teu sorriso feliz.
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BeatriceMar

domingo, 10 de agosto de 2014

Paixao


Se me chamas em silêncio,
não sei se sou eu que engendro a ária,
que me percorre o corpo,
se me extasio se me desfaço,
em flocos de algodão,
ou em cheiros de nós.

Não sei
e nem me importo!
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BeatriceMar 10-08-2014

domingo, 3 de agosto de 2014

hoje desenhei um barco

Marite


hoje, desenhei um barco
em estilhaços de cores vivas e alegres
que sempre vagueiam na retina do olhar
(do meu)
eu, nunca te disse que em todos
os portos, há um barco que chama por mim.

BeatriceM 03-08-2014

domingo, 13 de julho de 2014

O dia apagou-se


O dia apagou-se.

Algures,
a noite invadiu um  quarto vazio,
onde um corpo se contrai
num fogo
carente de ternura
como água fresca a germinar
duma nascente.

Os pássaros dormem nos seus ninhos.

BeatriceM 2014-07-13

domingo, 6 de julho de 2014

Ainda acredito no amor



Elena "Kassandra" Vizerskaya


       Ainda acredito no amor, inaceitável não acreditar, naquilo que eu acho que faz girar a terra  e faz balançar montanhas.
        Mas, acreditar não quer dizer que ainda espero que me ofereças as flores que naquele dia te esqueceste de comprar.    
       O teu espectro por vezes ainda ronda a luz que me fere a visão, mas, aprendi a viver sem a tua sombra e quiçá sem o teu fantasma.  
       Já não sei se ainda te amo, mas ainda acredito nesse amor, de que falam nos livros.

BeatriceMar2014/07/06

quinta-feira, 3 de julho de 2014

leio-te

Samantha Lamb

Leio-te em vão,
nas páginas de um livro, que sei que escreveste,
mas que não habitaste,
assim vou, às cegas, sem farol e sem rumo,
nas sombras de mim,
que pinto de afectividade e luz,
e  remeto para o céu e assim iluminar a estrela,
em que te transformaste.