domingo, 31 de março de 2013

O verão deixa-me os olhos mais lentos sobre os livros


O verão deixa-me os olhos mais lentos sobre os livros.
As tardes vão-se repetindo no terraço, onde as palavras
são pequenos lugares de memória. Estou divorciada dos
outros pelo tempo destas entrelinhas - longe de casa,
tenho sonhos que não conto a ninguém, viro devagar
.
a primeira página: em fevereiro, eles ainda faziam amor
à sexta-feira. De manhã, ela torrava pão e espremia
laranjas numa cozinha fria. Havia mais toalhas para lavar
ao domingo, cabelos curtos colados teimosamente ao espelho.
Às vezes, chovia e ambos liam o jornal, dentro do carro,antes de se despedirem. As vezes, repartiam sofregamentea infância, postais antigos, o silêncio - nada
.
aconteceu entretanto. Regresso, pois, à primeira linha,à verdade que remexe entre as minhas mãos. Talvez os olhos
estivessem apenas desatentos sobre o livro; talvez as histórias
se repitam mesmo, como as tardes passadas no terraço, longede casa.
Aqui tenho sonhos que não conto a ninguém.
.
Autor:Maria do Rosário Pedreira
In A Casa e o Cheiro dos Livros



domingo, 24 de março de 2013

Prece




Estou acorrentada a uma imagem, que o espelho me traduz
E que não a sinto minha – EU
0lho-me
e atormentada vejo penumbras.
E presa nos gestos
que desprendo
Desenho uma estrela cheia de  luz
Um pedaço de céu
Um pouco de mar
E para lá do espelho
Peço aos Deuses um pouco de paz
E lucidez neste pedaço de Terra


BeatriceMar 2013-03-21




domingo, 17 de março de 2013

Caminho


Caminho nas cores incandescentes, que escolho no olhar,
desato as correntes que me estrangulam o ser.
O trejeito irrefletido no ir,
o brado no vácuo de não saber para onde ir,
mas vou!
.
BeatriceMar 2013-03-16


domingo, 10 de março de 2013

Um verão distante




Estou por aqui queimando o tempo
vazio de mim
desejando-te
e tu és memória difusa
de um dia em que te amei
sinto um vazio pleno de emoções
estou despido, nu de sentimentos
desejo-te
já não sei quem és
memória de um dia antigo
um verão distante.

Autor : João marinheiro Junho 2004 http://porquexistes.blogspot.pt/


domingo, 3 de março de 2013

A Tela


Para A . 

Calo   o  meu canto, na voz do vento
em silêncios de mim.

Abraço-me num  isolamento que não procurei, num dia que nem assinalei.

É só mais um dia,
outro,
onde me desnudo para  a tela do pintor,
e onde só o pincel entende,
essa nudez.
.

BeatriceMar 2013-03-03

domingo, 24 de fevereiro de 2013

Posso




Posso dizer que não te amo, que nem sei se te amei algum dia. E sei que minto. Minto-me, mas sei que minto. E eu só minto a mim própria, nunca a outrem. E esta verdade é só a mim que interessa. A mentira também.
Sei que que ainda sinto orgulho em ti e que ainda te sinto meu e que tu fazes ou fizeste parte de mim e dos espaços que ainda abrigo em mim. Não sei se sequer te lembras do que tivemos, se é que tivemos alguma coisa. Acho que ainda temos algo em comum, como os cigarros que fumávamos juntos, a olhar o rio, enquanto a manhã se fazia anunciar.
Não precisas ter medo do que tivemos. Foi um amor tão bonito. Paixão. Loucura. Eu acho que vivia isso tudo, outra e outra vez. Se te perguntarem por mim, podes negar-me podes dizer que não sabes de mim. Podes mentir. Eu sobrevivo! Mas não negues que um dia eu e tu fomos um.
 .
Beatrice Mar 2013-02-24




domingo, 17 de fevereiro de 2013

Amaste-me

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O silêncio que nos martirizou
a distancia que nos doeu
as circunstâncias estranhas
amargas
insuspeitas
frias
desinteressantes.


Amaste-me
eu sei!

E de nada serviu o meu olhar
envergonhado e faminto
sobre a tua pele
nua
e apetecida.


BeatriceMar

domingo, 10 de fevereiro de 2013

Voo de asa



Quero voar
nas asas do destino 
com o sol em mim 
com as mãos em riste. 

Em golpes de vento 
esventrando horizontes ,

quero viver a vida 


BeatriceMar

domingo, 3 de fevereiro de 2013

Miragem



A luz reflectida na água,e na tarde de mim
como se os meus olhos e o meu corpo
fossem um apêndice de um sonho extinto
as minhas mãos desfiam areia
por entres os dedos
arrefecidos
o corpo oblíquo sobre o mar
e ardendo de azul
imagino ver no horizonte
um tempo de paz.
.
BeatriceMar
Foto . Rafał_M

domingo, 27 de janeiro de 2013

o vento lá fora



o vento uiva lá fora, 
(os fantasmas assustam-me)
aterrada de medo e frio
encolho-me debaixo dos lençóis
e penso em ti.


por vezes nem sei se eu que penso em ti
se é o meu corpo, que sente falta do teu.


quantas vezes desejei, que ficasses aqui
a dormir comigo
(e tu nunca podias)
para te abraçar durante a noite 
para me embriagar de ti e sentir-te meu
(que nunca foste).

o vento não dá tréguas 
e eu só quero que a noite acabe
que o temporal se vá
e que o sol brilhe no horizonte
e que as tuas mãos me acariciem
como sombras macias.


por vezes nem sei se sou eu que penso em ti
se é o meu corpo.

.
BeatriceMar


domingo, 20 de janeiro de 2013

arrumações


eu quero lançar para o mar
esta angústia de dias acinzentados
de mágoas embuçadas
de dores auguradas.

esquecer-me de mim
e deitar fora os farrapos
os laços
os medos
e tudo o que me lembrar de mim.

enquanto eu não me metamorfosear
nada mudará
e
eu serei apenas um caco partido

espalhado pelo chão. 
.
Beatrice Mar


domingo, 13 de janeiro de 2013

Do amor impossível

1

Vai e sofre:
Não nos resta senão esta partida
Para o país de lágrimas e névoas
Dentro de cada um de nós.
Vai e esquece:
Nesse outro lado da vida
Das nossas vidas independentes
Talvez nos encontremos juntos
Os dois
2
Se dizes «Vem», amor,
Porque não vou?
Se dizes «Vem»
E sei que o dizes,
Porque me fico longe
A olhar-te, a desejar-te?
Porque não saio de onde estou?
Porque não vou para onde estás?
Se dizes «Vem»
(Eu não me engano, amor)
Porque não vou, meu bem?
Porque não vou?
Ser orgulhoso à tua frente
Fazer-me forte à tua frente
Oprimir-te oprimindo-me
Inquietar-te tornando-me
Inquietamente indiferente?
Amor, porque não vou?
Porque não vou, amor?
Porque não vou?

3

Talvez não seja de ti que eu goste
Mas da outra
Que tão estranhamente contigo se parece.
A outra a quem me não atrevi a amar
A outra por quem falhei
A outra.
Mas este desejar-te e repelir-te
Temer-te como se a outra fosses e adorar-te
Este estar aqui e desejar-me a teu lado
Este paradoxal receio
Isto
Que me faz rasgar os planos arquitectados
E apaga as tintas de todos os quadros-só-tu-e-eu que idealizo,
Isto
Como explicar tudo isto
Se tu não és a outra?
Talvez seja a outra que eu adore.
Mas tu pareces-te tão estranhamente com ela
Tens tanto dela, dessa outra, tanto,
Que talvez sejas a outra
Aquela a quem me não atrevi a amar
Aquela por quem falhei
A outra,
Tu.

4
Não te possuí
Nem sei se o quis.
(Contudo
A impressão de te ter perdido!)
Adorei as curvas do teu corpo infantil
Mas não as quis, não as amei pròpriamente,
Mas à sua frescura
-Frescura doce dos frutos que amadurecem.
Nada mais eu quis.
(No íntimo,
A impressão de que talvez te
[houvesse querido.)
Se os olhares que me deste e recebi
Ou recebi sem que mos desses
Eram pra mim,
Nada mais quisera do que a sua continuação.
Quantas vezes sentiste
A carícia dos meus olhos no teu corpo
No teu corpo infantil, no esboço
Do teu futuro corpo idealizado!
E quantas vezes cruzaste o meu olhar!
Mas talvez não fossem para mim
Os olhares que encontrei.
Talvez fosse o acaso.
Teu olhar-acaso foi-me esperança por vezes.
Teu olhar-inocência foi-me, por vezes, pedido.
Teu olhar-menina-púdica foi-me, por vezes, tentação.
Mas afinal
Talvez não fosse a ti que eu quis.
Talvez não fosse a ti.
Talvez nem te adorasse.
Talvez nem a tua puberdade me encantasse.
Penso que talvez não tivesse sido nada
Neste momento da partida não-realizada
Da separação de nós
Que nunca fomos nós
Mas eu e tu:
Tu ela, tu alheia, tu distante,
E eu...
Que recolho sem vontade
Os cacos do meu coração partido.
.
Autor : Mário António*


*Mário António Fernandes de Oliveira. Maquela do Zombo, 05/04/1934 - Lisboa, 07/02/1989) Estudos primários e liceais em Angola. Licenciado em Ciências Sociais e Políticas pelo Instituto Superior de Ciências Sociais e Políticas e doutorado em literaturas africanas de língua portuguesa pela Universidade Nova de Lisboa. Foi considerado dissidente pelo MPLA e menosprezado pelo regime angolano. Sua obra foi, injustamente, relegada à segundo plano. Morreu em Portugal em 1989, país onde morou desde 1963.



domingo, 6 de janeiro de 2013

eu entendo



eu entendo porque me alheio de tudo
nesta data
porque detenho as lágrimas que se queriam libertas.

no entanto,
sei que sei,
mas, não tenho coragem de chorar
porque,
se o fizer, tenho medo de não conseguir parar.

se aqui estivesses, tu entenderias
mas tu já não fazes parte deste mundo.

no embalo duma estrela
com a doçura do teu sorriso
foste para o lugar dos anjos.

até um dia!


Beatrice Mar



Selo literário 2013


O Selo Literário 2013 - Leia sempre
foi criado pela blogueira
Érica Bosi


Quem me indicou foi a Ana de http://semti2012.blogspot.pt/http:
que agradeço mas vou fugir às regras 
obrigada!

terça-feira, 1 de janeiro de 2013

....

Banco de Imagenes Gratis

aqui neste esconderijo
oiço as águas do rio
a correr para a foz
sei que perdi tudo, mas que ainda vou a tempo de
colar os cacos que se espalham dentro e fora de mim.

é ano novo e ainda me atrevo a sonhar.