Nunca se sabe o que é para sempre, sobretudo nas coisas do amor. E era uma coisa do amor, isto tudo. São tão estranhas as coisas do amor que não se compreendem por inteiro. Tem de se estar sempre a fazer suposições. Nunca se sabe como e até que ponto a até quando. Esta obsessão chega para impedir a vida, o amor pode impedir o amor, amaldiçoá-lo como um espectro.
em que os candelabros de ouro enaltecem as tuas formas, a tua alquimia de pecado e volúpia, há sempre, no teu sorriso breve, uma brisa que regressa do mar, trazendo o lamento dos náufragos, a sua sede irremediável. Nestas horas de assassinada alegria ergues os braços e uma súplica, mas ninguém te ouve, ninguém te vê, encerrada numa túnica de cores puras.
as cabras escondendo o delicado tilintar dos guizos nos sais de prata da fotografia poderia erguer-me como o castanheiro dos contos sussurrados junto ao fogo e deambular trémulo com as aves ou acompanhar a sulfurica borboleta revelando-se na saliva dos lábios poderia imitar aquele pastor ou confundir-me com o sonho de cidade que a pouco e pouco morde a sua imobilidade..... - ...habito neste país de água por engano são-me necessárias imagens , radiografias de ossos rostos desfocados mãos sobre corpos impressos no papel e nos espelhos repara..... nada mais possuo a não ser este recado que hoje segue manchado de finos bagos de romã repara.... como o coração de papel amareleceu no esquecimento de te amar.....
Autor :Al Berto
Foto;Aruan
quarta-feira, 1 de julho de 2009
Hoje de manhã saí muito cedo,
Por ter acordado ainda mais cedo
E não ter nada que quisesse fazer...
.
Não sabia que caminho tomar
Mas o vento soprava forte, varria para um lado,
E segui o caminho para onde o vento me soprava nas costas.
Digam que foi mentira, que não sou ninguém, que atravesso apenas ruas da cidade abandonada fechada como boca onde não encontro nada: não encontro respostas para tudo o que pergunto nem na verdade pergunto coisas por aí além eu não vivi ali em tempo algum .
Porque escondes a noite no teu ventre? Nesse país de sombra onde se calam as palavras. Aí, no escuro lago onde estremece a flor da amendoeira E onde vão morrer todos os cisnes.
Eu desvendo a tua dor, o teu mistério De caminhares assim calada e triste, Quando viajo em ti com as mãos nuas e o coração louco No mais fundo de ti, onde só tu existes.
Oh, eu percorro as tuas coxas devagar Dobrando-as lentamente contra o peito E penetro em delírio a tua noite Esporeando éguas no teu sangue. De onde me chegam estas palavras? .
Nascemos todos com vontade de amar. Ser amado é secundário. Prejudica o amor que muitas vezes o antecede. Um amor não pode pertencer a duas pessoas, por muito que o queiramos. Cada um tem o amor que tem, fora dele. É esse afastamento que nos magoa, que nos põe doidos, sempre à procura do eco que não vem. Os que vêm são bem-vindos, às vezes, mas não são os que queremos. Quando somos honestos, ou estamos apaixonados, é apenas um que se pretende.Tenho a certeza que não se pode ter o que se ama. Ser amado não corresponde jamais ao amor que temos, porque não nos pertence. Por isso escrevemos romances - porque ninguém acredita neles, excepto quem os escreve.Viver é outra coisa. Amar e ser amado distrai-nos irremediavelmente. O amor apouca-se e perde-se quando quando se dá aos dias e às pessoas. Traduz-se e deixa ser o que é. Só na solidão permanece...
.
Autor:Miguel Esteves Cardoso
Foto:netiee
quarta-feira, 27 de maio de 2009
Escrevo-te enquanto algo resvala, acaricia, foge e eu procuro tocar-te com as sílabas do repouso como se tocasse o vento ou só um pássaro ou uma folha. Chegaste comigo ao fundo aberto sob um céu marinho, sobre o qual se desenham as nuvens e as árvores. Estamos na aurícola do coração do mundo. O que perdemos ganhamo-lo na ondulação da terra. Tudo o que queremos dizer sai dos lábios do ar e é a felicidade da língua vegetal ou a cabeça leve que se inclina para o oriente. Ali tocamos um nó, uma sílaba verde, uma pedra de sangue e um harmonioso astro se eleva como uma espádua fulgurante enquanto um sopro fresco passa sobre as luzes e os lábios.
Escrever é, para mim, tentar desfazer nós, embora o que na realidade acabo sempre por fazer seja embrulhar ainda mais os fios. A própria caligrafia é sufocada. Há, todavia, um momento em que as palavras são cuspidas, saem em borbotões, e o sangue e a saliva impregnam o sentido. É impossível separá-los. Por trás talvez não haja mesmo nada. São palavras que não estão ginasticadas, que secam e encarquilham como folhas por que a seiva já não passe. Oprimem toda a página, através da qual deixa de ser possível respirar. Tapam-lhe os poros. A própria chuva que neles caia não se escoa.
Autor:Luís Miguel Nava Foto:mastercrasch
sábado, 2 de maio de 2009
...Escrevo porque não te posso falar. Não estás. Não me escutas. Se
estivesses tudo era diferente. Pelo menos tentava não cometer os
mesmos erros. E se quisesses partir de novo eu queria ir contigo
desta vez. Porque da última vez que partiste nunca mais voltaste....
Na selva dos meus órgãos, sobre a qual foi desde sempre a pele o firmamento, ao coração coube o papel de rei da criação. Ignoro de que peça é todo este meu corpo a encenação perversa, onde se vê o sangue rebentar contra os rochedos. Do inferno, aonde às vezes o sol vai buscar as chamas, sobre ele impediosamente jorram os projectores.
Autor: luís miguel nava
Poesia Completa 1979-1994
Publicações D. Quixote, 2002 Foto:Paulo Cesar http://www.paulocesar-eu.paulo/ cesar
domingo, 5 de abril de 2009
...Prometemos um ao outro, as coisas impossíveis. O amor proibido. As palavras