Aceso está o fogo
prontas as mãos
o dia parou a sua lenta marcha
de mergulhar na noite.
As mãos criam na água
uma pele nova
panos brancos
uma panela a ferver
mais a faca de cortar
Uma dor fina
a marcar os intervalos de tempo
vinte cabaças deleite
que o vento trabalha manteiga
a lua pousada na pedra de afiar
Uma mulher oferece à noite
o silêncio aberto
de um grito
sem som nem gesto
apenas o silêncio aberto assim ao grito
solto ao intervalo das lágrimas
As velhas desfiam uma lenta memória
que acende a noite de palavras
depois aquecem as mãos de semear fogueiras
Uma mulher arde
no fogo de uma dor fria
igual a todas as dores
maior que todas as dores.
Esta mulher arde
no meio da noite perdida
colhendo o rio
enquanto as crianças dormem
seus pequenos sonhos de leite.
Autor : Ana Paula Ribeiro Tavares
Imagem :Victor Bauer
3 comentários:
Belo e sentido poema! Onde o poeta divaga, pela essência de ser mulher...
Gostei muito. Parabéns á autora!
Votos de um ótimo fim de semana, com muita saúde!
Beijinhos!
Poesia fascinante em sublime relevância. Maravilhoso de ler.
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Abraço
Cuide-se
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Pensamentos e Devaneios Poéticos
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Uma partilha maravilhosa!!
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A voz que me afaga e endoidece
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Beijo, e bom fim de semana.
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