terça-feira, 12 de setembro de 2023

saudade

 

 Tal como és, assim te quero, e sempre
diverso cada dia do que foste;
cada imperfeito gesto que inventares
me fará desejar-te em outro verso.

Da arte do soneto feito mestre
no concurso sem regra da floresta,
na mais pequena folha te descubro
e no caule do vento é que te perco.

Da turva luz já retirei o emblema
que me sirva de rosto permanente
e venha o cabeçalho do poema;

e pedirei à noite que me empreste
um farrapo do manto incandescente
de que se veste, agora, para ter-te.

Autor : António Franco Alexandre
Imagem :  Ziqian Liu