imaginamos sinais de orvalho nas manhãs que emergem
das noites mais quentes e secas
do estio da nossa alma
antecipamos caminhos largos e floridos
nas placas cimentadas do chão
onde nos pregamos aos pés
e pedimos ao sol que trespasse
as densas nuvens do nosso inverno
interno
a cada tempo queremos um outro tempo
em cada espaço suspiramos por outro espaço
e nas mãos de hoje vemos apenas
a saudade dos toques de ontem
a ânsia pelos gestos de amanhã
e as marcas dos momentos que não vimos passar
fechamos as janelas ao medo como se ele tivesse saído
para passear os cães que nos guardam as portas
na recusa de vermos que moramos numa casa
feita de pele
sem portas nem janelas
inalamos o ar rarefeito no conforto aveludado de todas as coisas
exteriores a nós
e exteriores ao nosso medo
mas o medo é um gato preto e manso
que se deita no nosso ombro esquerdo
à espera de um afago
para se poder cumprir
e quando o medo se cumpre
o medo
não mete medo algum
temos por baixo da pele uma vida feita de instantes
ausências esperas
dores angústias
risos prazeres
instantes de corpo de alma
e de afagos
ao nosso medo preto
no olhar branco do nosso gato
manso
Autor : Rosário Ferreira Alves
imagem : Rob Woodcox
2 comentários:
Um poema muito bonito!!
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Não vale a pena ...
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Beijos. Bom fim de semana..
Intenso, poderoso, profundo, deslumbrante, fascinante de ver e ler.
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Saudações cordiais
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Pensamentos e devaneios poéticos
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