Não me exijas glórias
que ainda transpiro
os ais
dos feridos nas batalhas
Não me exijas glórias
que sou eu o soldado desconhecido
da humanidade
As honras cabem aos generais
A minha glória
é tudo o que padeço
e que sofri
Os meus sorrisos
tudo o que chorei
Nem sorrisos nem glória
Apenas um rosto duro
de quem constrói a estrada
pedra após pedra
em terreno difícil
Um rosto triste
pelo tanto esforço perdido
- o esforço dos tenazes que se cansam
á tarde
depois do trabalho
Uma cabeça sem louros
porque não me encontro por ora
no catálogo das glórias humanas
Não me descobri na vida
e selvas desbravadas
escondem os caminhos
por que hei-de passar
Mas hei-de encontrá-los
e segui-los
seja qual for o preço
Então
num novo catálogo
mostrar-te-ei o meu rosto
coroado de ramos de palmeira
E terei para ti
os sorrisos que me pedes.
Autor :António Agostinho Neto
Imagem : David Talley
3 comentários:
Simplesmente brilhante. Amei a foto e o poema. Feliz fim de semana
Uma faceta pouco conhecida desse herói angolano que a história desse jovem país registará para sempre.
Nossa, que poesia bela e visceral. Imaginei Maria Bethania declamando esse poema, rs. Obrigado por compartilhar.
Abraços fraternos
Dan
https://gagopoetico.blogspot.com/2023/08/toda-forma-de-amor.html
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