terça-feira, 9 de maio de 2023

In Memoriam

 

ao Bernardo Sassetti

Há um fotógrafo triste que bóia no oceano. Nas mãos
já não tem a máquina que deixou cair pelo caminho,
e nos olhos falta-lhe essa força que lhe permitia fixar
o objectivo, definir o quadro, inventar o ângulo
certo para atingir o alvo. Agora, flutua como o barco
que perdeu a âncora, ou como folha que se cansou
de ir com o vento, e se deitou a descansar num
leito de água. Alguém que o tivesse visto teria
querido chamar por ele, puxá-lo para a margem,
e convencê-lo a olhar para a paisagem, sem outro
objectivo do que o simples olhar para a paisagem;
mas ele não ouve ninguém, e deixa-se ir até onde
a corrente o levar, no mar que se tornou o seu berço.

Autor : Nuno Júdice
Imagem : Jessamine Barnieh

2 comentários:

- R y k @ r d o - disse...

Intenso e profundo, Lindo poema e foto
.
Um dia feliz ... abraço.
.

Cidália Ferreira disse...

Belíssimo poema!!
.
Carrossel de emoções ...
.
Beijo. Boa noite