quarta-feira, 11 de novembro de 2020

O Fim dos Labirintos

 

De repente, o chão da estrada ficou branco. Aquele chão, que separava as mulheres, do labirinto. 
Nem as sombras, que habitualmente se desenhavam nos muros, 
Nem o sangue dos pés caminhantes…. já nada disso restava. 
De repente, o sol fez-se uma enorme labareda e o sacrifício foi engolido, 
assim como o cansaço, as trevas, a garganta seca, a água de lavar os pratos… tinham desaparecido. 
Um espanto! 
Aquele chão da estrada, agora branco!! 
Aquela estrada do muro do labirinto, agora aberta!! 
Aquele tempo cinzento e doloroso, agora iluminado!! 
De repente, as mulheres começaram a cantar canções alegres. 
Pousaram as canastras com as peças metálicas e dançaram. 
Já nem sequer eram mulheres, eram asas peneireiras dos bosques. 
Pareciam pássaros enormes chegados do Princípio do Futuro com os machados de sílex, capazes de destruir todas as portas trancadas e todos os regulamentos injustos. 
Aproximaram-se os curiosos, vieram os noticiosos e os mensageiros observar tamanha revolução alada. 
- As mulheres desfizeram o labirinto! – dizia-se por todo o lado! 
- As mulheres cortaram os cabelos e vestiram-se de vermelho! – ouvia-se no rádio. 
- Que petulância! Que atrevimento! – vociferavam alguns, cheios de catarro. 
Mas as mulheres continuaram, cada vez mais confiantes. Cada vez mais lindas! Porque os labirintos também se derrubam. 

Autor :Alice Caetano
Imagem : Vadim Stein

4 comentários:

brancas nuvens negras disse...

Um poema de grande imaginação.

" R y k @ r d o " disse...

Como homem digo: O que seria do mundo se não houvesse a beleza e ternura de uma mulher? Decerto que seria mesmo um negro e vazio labirinto.
Gostei muito de ler este texto.
.
Cumprimentos poéticos

Cidália Ferreira disse...

Gostei bastante!!:))
~~
Estranha viagem...
~~
Beijo, e uma excelente tarde.

VILMA ORZARI PIVA disse...

Bela postagem!!
As mulheres ainda caminham nessa luta tão desigual!!
Beijos!!