quinta-feira, 20 de abril de 2023

já não tenho mão

já não tenho mão com que escreva nem lâmpada,
pois se me fundiu a alma,
já nada em mim sabe quanto não sei
da noite atrás da luz: livros, frutas na mesa, o relógio
que mede
minha turva eternidade
e o tempo da terra monstruosa,
já nada tenho com que morrer depressa,
excepto
tanta hora somada a nada:
acautela a tua dor que se não torne académica .

Autor :Herberto Helder, in Servidões
Imagem : Evan Atwood

2 comentários:

- R y k @ r d o - disse...

Intenso, profundo, fascinante de ler e ver
.
Saudações cordiais.
.
Poema: “” Traições são trilhos sem nada ””…
.

brancas nuvens negras disse...

Um dos maiores, consegue dizer de uma forma poética sem igual.
Um abraço.