os pássaros soterraram agosto
e sem lugar um homem cega pela janela
o mar que jura ter tocado com o sangue
podia ter sido o amor se não
tivesse vindo
tão directamente da sede
um duplo rosto de enganos e os braços
que saíram desertos
o eco da morte reverbera na pele
com que vejo a tua ausência encher as ruas
um choro de papel cai pela terra
e nunca foi tão tarde ser depois
daqui onde o grito surdo
incendeia
a refutação da madrugada
donde o crânio esmaga o coração
um homem corta pela janela
a própria certeza de ter sido
não é tarde
demais para uma manhã
que foi a enterrar em tantas noites
as escadas morreram de sede
a terra caiu em nunca
podes levar os dias que trouxeste
Autor : Pedro Sena-Lino
Imagem: Katerina Plotrikova
3 comentários:
A imagem é soberba olhando ao conteúdo do poema. Belíssimos.
.
Cumprimentos
Abraço
Poema triste e desesperado de quem vislumbra o fim do mundo, para si próprio.
Uma janela aberta para o desespero.
Belo e triste.
Bj
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