Deito fora as imagens.
Sem ti, para que me servem
as imagens?
Preciso habituar-me
a substituir-te
pelo vento,
que está em qualquer parte
e cuja direcção
é igualmente passageira
e verídica.
Preciso habituar-me ao eco dos teus passos
numa casa deserta,
ao trémulo vigor de todos os teus gestos
invisíveis,
à canção que tu cantas e que mais ninguém ouve
a não ser eu.
Serei feliz sem as imagens.
As imagens não dão
felicidade a ninguém.
Era mais difícil perder-te,
e, no entanto, perdi-te.
Era mais difícil inventar-te,
e eu te inventei.
Posso passar sem as imagens
assim como posso
passar sem ti.
E hei-de ser feliz ainda que
isso não seja ser feliz.
Autor : Raúl de Carvalho
in “Obras de Raul de Carvalho”
2 comentários:
Bom dia:- São maravilhosos os controversos do nosso imaginário. É assim que classifico este magistral poema.
.
Abraço poético
Seguir em frente, sempre, é o lema.Por mais que nos doa.
Uma boa semana :)
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