entrego-te as palavras mais brandas
que entre os meus dedos construí
para alimentar de ti os recantos da casa
invadindo o coração da noite
entrego-te as palavras com a redonda luz
das maçãs sobre a mesa e o rumor da água
rasgando o caminho da paixão
em horas que já não conseguimos sem ajuda recordar
mas que habitam a mais frágil memória de nós próprios
palavras jorrando dos meus olhos
invadindo-te o sono e tropeçando
nas esquinas das frases que decoro
ao longo dos veios da tua pele
e a verdade é que nunca terei outra história
para além da que nos aconteceu
e que ficamos à espera de um dia perceber melhor
porque nunca ninguém se prepara convenientemente
para a chegada do amor
e ele é sempre um convidado estranho
sentado em silêncio na penumbra da sala
olhando os quadros o chão o tecto
como um velho parente da província
com medo de dizer o que não deve
Autor : Alice Vieira.
1 comentário:
O amor ora tempestade ora bonança.
Delicado ou febril.
Mas sempre tocante.
Na hora da sua chegada.
Um beijinho de fé.
Megy Maia
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