sexta-feira, 7 de fevereiro de 2020

entrego-te as palavras mais brandas

entrego-te as palavras mais brandas
que entre os meus dedos construí
para alimentar de ti os recantos da casa
invadindo o coração da noite

entrego-te as palavras com a redonda luz
das maçãs sobre a mesa e o rumor da água
rasgando o caminho da paixão
em horas que já não conseguimos sem ajuda recordar
mas que habitam a mais frágil memória de nós próprios

palavras jorrando dos meus olhos
invadindo-te o sono e tropeçando
nas esquinas das frases que decoro
ao longo dos veios da tua pele

e a verdade é que nunca terei outra história
para além da que nos aconteceu
e que ficamos à espera de um dia perceber melhor

porque nunca ninguém se prepara convenientemente
para a chegada do amor
e ele é sempre um convidado estranho
sentado em silêncio na penumbra da sala
olhando os quadros o chão o tecto

como um velho parente da província
com medo de dizer o que não deve

Autor : Alice Vieira.

1 comentário:

  1. O amor ora tempestade ora bonança.
    Delicado ou febril.
    Mas sempre tocante.
    Na hora da sua chegada.
    Um beijinho de fé.
    Megy Maia

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Saudações Poéticas e que a Poesia viva sempre entre nós.
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