Quando eu continuar na minha marcha eterna,
direito no caixão, sereno e branco,
tu ficarás sozinha.
E talvez só entendas claramente
que, além de ti, eu era a única pessoa.
As mãos que se estenderem para ti
ser-te-ão irreais, como de fumo.
E todas as bocas serão gélidas e mortas,
e todas as palavras gélidas e mortas,
tudo gélido e morto para ti.
Terás os cabelos singelamente escorridos
e os olhos molhados
e as mãos abandonadas.
E só então (tão tarde) tu verás,
com a lucidez que vem depois das coisas consumadas,
a verdade total.
Tuas olheiras roxas
e os ombros caídos ao peso dos braços
serão a medida exata desta palavra: angústia.
Um manto de inutilidade e do vazio cairá sobre as coisas.
Ah mas então será tarde, imensamente tarde!
Porque eu estarei direito no caixão, sereno e branco,
sem poder repetir-me nunca mais.
Autor : Mário Dionísio
Imagem : Ben Zank
1 comentário:
Um grande poema, emocional. Só quando perdemos os que temos ao nosso lado é que temos noção do seu valor e do que perdemos.
Um abraço.
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