sexta-feira, 20 de setembro de 2019

Para a menina

Desmancho as tranças da menina
e os meus dedos tremem
medos nos caminhos
repartidos de seus cabelos.

Lavo o corpo da menina
e as minhas mãos tropeçam
dores nas marcas-lembranças
de um chicote traiçoeiro.

Visto a menina
e aos meus olhos
a cor de sua veste
insiste e se confunde
com o sangue que escorre
do corpo-solo de um povo.

Sonho os dias da menina
e a vida surge grata
descruzando as tranças
e a veste surge farta
justa e definida
e o sangue se estanca
passeando tranqüilo
na veia de novos caminhos,
esperança.

Autor : Conceição Evaristo
no livro “Poemas da recordação e outros movimentos”. Belo Horizonte: Nandyala, 2008.
Imagem : Jasmeine Moonsong

1 comentário:

Larissa Santos disse...

Um poema fantástico :))

Hoje:-Cumplicidade mutua do nosso sentimento. |Poetizando e Encantando|

Bjos
Votos de uma óptima Sexta-Feira