terça-feira, 20 de junho de 2023


Nas estantes os livros ficam
(até se dispersarem ou desfazerem)
enquanto tudo
passa. O pó acumula-se
e depois de limpo
torna a acumular-se
no cimo das lombadas.
Quando a cidade está suja
(obras, carros, poeiras)
o pó é mais negro e por vezes
espesso. Os livros ficam,
valem mais que tudo,
mas apesar do amor
(amor das coisas mudas
que sussurram)
e do cuidado doméstico
fica sempre, em baixo,
do lado oposto à lombada,
uma pequena marca negra
do pó nas páginas.
A marca faz parte dos livros.
Estão marcados. Nós também.

Autor :Pedro Mexia
Imgem : Nicole Burton

3 comentários:

" R y k @ r d o " disse...

Lindo de ver e ler. Deixo o meu elogio
.
Saudações cordiais … um dia feliz.
.
Pensamentos e devaneios poéticos
.

brancas nuvens negras disse...

Um poema sobre um facto comum.

Luna disse...

Vamos aos poucos limpando as nossas marcas, quando a sabedoria dos livros nos ilumina a mente e faz florescer o coração