quinta-feira, 26 de janeiro de 2023

a rectidão da água; o crescimento


a rectidão da água; o crescimento
das avenidas, ao anoitecer, sob a nua
vibração dos faróis;

o laço, mesmo, das portas só
entreabertas, onde a luz
silenciosa se demora;

são memórias, decerto, de um anterior
esquecimento, uma inocente
fadiga das coisas,

como os corpos calados, abandonados
na véspera da guerra, o teu
jeito para
o desalinho branco das palavras,
altas as
asas de nuvens no clarão do céu

em vão rigor abrindo
o destinado enigma: assim
desconhecer-te cada dia mais

ausente de recados e colheitas,
em assustado bosque, em sombra
clareira,

ao risco dos rios frívolos descendo
seixos polidos, desinscritos,
imóveis movendo

a luz do dia;
a margem recortada, aonde vivem
ausentes e seguros, os luminosos

animais do inverno;
assim são na verdade os muros claros;
assim respira o tempo, a terra intensa.

Autor:António Franco Alexandre
Imagem : Steve Arnold

3 comentários:

" R y k @ r d o " disse...

Fascinante de ver e ler. O meu elogio
.
Saudações poéticas e cordiais
.
Poema: “”Queria ter um sonho””…
.

brancas nuvens negras disse...

Nessa solidão fica o som dos passos.
Um abraço.

Cidália Ferreira disse...

Poema soberbo. Muito obrigada pela partilha!!
.
Nas manhãs da simplicidade da vida.
.
Beijos
Boa tarde!