terça-feira, 8 de fevereiro de 2022

[para que serve o corpo senão / para amar outro corpo]

 

Queria copular-te de maneira inédita e original
beijar a rosa de maneira que o rosa, vermelho ficasse.
Beijar teus erectos seios de forma que o sangue dos lábios
se misturasse com o leite derramado da ausência,
quando as montanhas eram o lugar aprazível, onde
o verde e o ar se misturavam no puro movimento
com que as abelhas esvoaçam no teu ventre, e
colhiam o pólen da flor aberta a toda a abstracta claridade.
Queria dizer-te que o meu Sul é o teu Norte
e que navegássemos à deriva no mar encapelado
de meu corpo, pelos ventos que me sopras aos ouvidos,
como o Adamastor às naus do Gama, e depois, viesses
sereia: agrinaldar-me a fronte e cobrir-me a pele
com as algas mais doces e aromáticas do Sal, que penetrando
narinas dentro, inebriassem neste velho marinheiro
os sentidos que trouxera da velha pátria Lusitânia,
e náufrago, me agarrasse a teu corpo de alabastro.

Autor : ©Joaquim Monteiro
in À janela do teu corpo
Imagem : Nikolay Tikhomirov

3 comentários:

brancas nuvens negras disse...

Um sugestivo poema, compacto, sensual.

" R y k @ r d o " disse...

Poema lindíssimo de ler
.
Saudações poéticas.
.
Pensamentos e Devaneios Poéticos
.

Paula Saraiva disse...

Um poema bem sensual que adorei ler. Parabéns
Beijinhos e uma boa noite