As mulheres da família sempre
tiveram um jeito quase póstumo
de existir: guardar o lume
em silêncio, comer depois de
servir os outros, morrer primeiro.
Saíam à hora de ponta do destino
para lerem os caminhos perdidos
e coleccionavam a abdicação
em caixinhas de folha, entre bilhetes
caducados ou dentes de infâncias alheias.
Esperavam a vida toda por uma vida
próxima, de alma presa a alfinetes
no vestido preferido para o enterro,
os passos medidos nas suas varandas
a dar para o fim do mundo.
Retomo-lhes às vezes os gestos
neste meu exílio inventado,
mas acaba aqui: vou encher de corpo
a sombra, mesmo que nem tempo
me reste já para a pesar.
Autor : Ines Dias
Imagem: Lei sálica, cópia manuscrita em pergaminhodo século VIII.Biblioteca Nacional da França-Paris
2 comentários:
Poema lindíssimo do que, de certa forma, era a vida das mulheres de antigamente. Não concordo muito do ... morrer primeiro.
Penso que não era (não é) bem assim
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Cumprimentos poéticos
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Pensamentos e Devaneios Poéticos
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Gostei muito do poema! :)
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Encantamento das estrelas...
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Beijo e um excelente dia
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