Do verão,
diria uma planície lenta, quase amarela: o trigo
a
enrolar-se nos pés, o oiro do sol, os cabelos
mais
loiros. Um vento quente e ondulante sibilando
nas
frestas de um celeiro. O fumo sonolento do calor
tornando
informe o fio do horizonte. Do verão
diria
também um tempo espesso onde todos
os acasos
são sofríveis: duas papoilas, vermelho-sangue,
agitam a
paisagem. Tu chegas e a minha pele chama-te
sete nomes
em surdina. É a luz da tarde que faz o fulgor
dos fenos
e aquece a roupa que abandonou o corpo
sem
perguntas. As mãos podem então dar-se
todos os
recados. E amanhã ninguém sabe. Fica
apenas um
punhado de espigas quebradas sobre a planície
lenta;
amarela, digo: as papoilas, entretanto, voaram.
Autor : Maria do
Rosário Pedreira
In Poesia reunida
2 comentários:
Não existe seara de trigo sem papoilas. E que lindas e frágeis ela são.
.
Tenha um dia feliz
Cumprimentos
Gosto muito da Maria do Rosário Pereira. Boa escolha.
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