quinta-feira, 24 de março de 2022

A sombra sou eu

 

A minha sombra sou eu,
ela não me segue,
eu estou na minha sombra
e não vou em mim.

Sombra de mim que recebo luz,
sombra atrelada ao que eu nasci,
distância imutável de minha sombra a mim,
toco-me e não me atinjo,
só sei dó que seria
se de minha sombra chegasse a mim.

Passa-se tudo em seguir-me
e finjo que sou eu que sigo,
finjo que sou eu que vou
e que não me persigo.

Faço por confundir a minha sombra comigo:
estou sempre às portas da vida,
sempre lá, sempre às portas de mim!

Autor : José de Almada Negreiros
Imagem : Jaroslaw Blaminsky

4 comentários:

" R y k @ r d o " disse...

Foto e poema deslumbrantes.
Cumprimentos

brancas nuvens negras disse...

Um grande e curioso poema.

Cidália Ferreira disse...

Adorei o poema. A imagem é maravilhosa!
--
Nas dobras do dia...

Votos de um excelente dia.
Beijos

Paula Saraiva disse...

Adorei o poema. Sublime.

Beijinhos. Boa noite