Na casa onde nasci, já morriam as paredes salgadas.
O movimento dos ponteiros era lento e ferrugento.
A chaminé fumava e fumava sem intervalos.
Havia formigueiros.
Havia bolor nos biscoitos.
Havia o prolongamento da utilização.
Reconduziam-se os dias sem pensar que a casa
[estava a morrer.
Faziam-se as compotas sem percebermos que o sótão
se desmantelava, desde o cerne e desde as chagas dos pregos.
Havia um contacto físico com a consumição.
Um contacto moral com os labirintos do calendário.
Na casa onde eu nasci, também nasceu a minha mãe.
Depois, as janelas emperraram nas dobradiças.
E as tardes de sol, que só existem quando somos alegres,
[conspiraram.
Ruínas, fora das crisálidas, como toutinegras.
Autor : Alice Caetano
In “Arranja-me um Emprego”
As ruínas são de grande importância para historiadores, arqueólogos e antropólogos, quer tenham sido fortificações individuais, locais de culto, universidades antigas, casas e edifícios utilitários, ou aldeias inteiras, vilas e cidades. belo texto!
ResponderEliminarUma beleza de poema e imagem. Obrigada pela partilha!
ResponderEliminar.
Existem palavras guardadas em mim
.
Beijo, boa tarde
Foto que mostra o estado "físico" em que se encontram muitas casas em Portugal, em particular em muitas aldeias do interior.
ResponderEliminar.
Saudações poéticas
.
Pensamentos e Devaneios Poéticos
.
Um poema que aborda a reconstrução de gerações
ResponderEliminar