sexta-feira, 22 de julho de 2022

Serotonina


Deveríamos escolher ir para a esquerda
ou para a direita
é que sempre em frente, desalinhados
não chegaremos nem mais um passo
os teus pés nunca me acompanham
dizes tudo como nada, nada importa
eu sempre mais atrás.

Agora há horas a mais e as portas
batem-me na cara
andamos em redemoinho, uma centrifugação
de comida estragada
azedámo-nos
já não nos fazemos a digestão, andas
aqui para cima e para baixo como os
pimentos
não entras nem sais, não me dás
casa
vivo na rua desde que me puxas os lençóis
mudamos de abrigo e aposto
que chegas lá primeiro
eu fico sempre para trás
a ver o que perdemos.

Vou, mas fico
a autocomiseração é mais indigesta
que os teus passos à frente
e eu também preciso de me alinhar
bater continência à vida e alargar a boca
para os lados, coisa que não
me tem acontecido.

Tenho tudo pronto.

Andei a varrer os restinhos de serotonina
que nem me enchem um saco
vieram misturados com cabelos e
pequenas farpas de madeira das
portas que batem, mas espero que chegue
deixo-te à entrada os meus sapatos
que nunca estão ao teu lado na rua,
sempre um metro mais atrás, como
a distância da minha vida à tua

vou descalça

Autor : Cláudia R. Sampaio

3 comentários:

Agradeço muito o feedback .
Mas, não comente se não leu, e por favor não deixe copy-paste.
Saudações Poéticas e que a Poesia viva sempre entre nós.
Muito obrigada!