quarta-feira, 29 de junho de 2022

O lírio prateado

 

As noites ficaram frias de novo, como as noites
de começo de primavera, e quietas de novo.
Será que a conversa te incomoda? Estamos
sozinhos agora; não temos razão para silêncio.
Vês, sobre o jardim — a lua cheia nasce.
Não verei a próxima lua cheia.
Na primavera, quando a lua nascia, significava
que o tempo era infinito. Anêmonas
abriam e fechavam, as sementes
em cachos caíam dos bordos em pálidas lufadas.
Branco sobre branco, a lua nascia sobre o vidoeiro.
E no arco em que a árvore se divide,
folhas dos primeiros narcisos, ao luar
prata-verde-claras.
Juntos, chegamos
perto demais do fim para agora
temermos o fim.
Nessas noites, não estou nem mesmo certa
de que sei o que significa o fim.
E tu, que estiveste com um homem —
depois dos primeiros gritos,
não faz a alegria, como o medo,
barulho algum?

Autor :Louise Glück
tradução de Maria Lúcia Milléo Martins

2 comentários:

  1. Imagem e poema deslumbrantes de ver e ler.
    .
    Saudações cordiais
    .
    Pensamentos e Devaneios Poéticos
    .

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  2. Grande poema
    "... Juntos, chegamos
    perto demais do fim para agora
    temermos o fim."
    Um pormenor de grande qualidade poética.

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Agradeço muito o feedback .
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Saudações Poéticas e que a Poesia viva sempre entre nós.
Muito obrigada!