quinta-feira, 18 de março de 2021

Cegueira

Há muito que sabia o que o esperava quando,
surgindo do nada, olhou à volta,
cego pela claridade.
Subiu lentamente a ribeira e encontrou as grutas,
e aí bebeu,
enquanto esperava a senhora da escuridão.

E ela chegou, de repente, e disse:
abandona os remos, abandona o leme,
porque o teu destino é um barco parado na
montanha.
E ele levantou-se, como se já nada quisesse,
e ouviu a estranha ave que anuncia a morte.

Noa montanha, ardiam dois archotes.
As casas, do outro lado, pareciam de cera,
dementes e imóveis.
O mar fazia ouvir a sua canção eterna.
Há muito que sabia que o clamor das viagens
tinha chegado ao fim.

Autor : José Agostinho Baptista in Filho Pródigo 
Imagem : Hossein Zare

2 comentários:

Agradeço muito o feedback .
Mas, não comente se não leu, e por favor não deixe copy-paste.
Saudações Poéticas e que a Poesia viva sempre entre nós.
Muito obrigada!