não consegues ouvir o que aqui ouves
é uma coisa sem princípio ou fim
são meios de metades intervalos
desisto, desisti, já não começo
essa maneira de troçar os dedos.
estás torcido na terra, tens um ombro
desigual, ou uma face entorpecida
pelo certeiro avanço do inverno
na fenda das palavras soletradas.
estás no vento veneno soterrado,
não sabes que respiras. Esqueceste
uma razão qualquer, a assinatura
que fica nos recados, nos retratos.
não consegues ouvir ouves somente
Autor: António Franco Alexandre
in Poemas, Lisboa: Assírio & Alvim,
1996, p. 180.
Imagem : Achraf Baznani
Delicioso de ler, poeticamente falando
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