Ficarei deitada entre flores murchas e molhadas
como o pássaro que ignora estar caído e morto
sobre pedras íntimas escorregadias de sal
no chão de tábuas de um quarto crepuscular
ou sobre as lajes nuas de uma praça
onde se nasce e morre sem pausa e sem dor.
Será talvez assim numa praça
que não se atravesse nunca vagamente
por estar finalmente a cumprir-se o oráculo
ao dormir amante sobre o ventre de mãe
da única alva de amor partilhada
com cordas de chuva a rasgarem-me o dorso
e a mesma violência de ritmo bendito
com que me empurraste contra as tábuas da barcaça
há quatro séculos e um dia em Bruges.
Era Setembro tanto faz.
Autor : Ana Margarida Falcão
Cadernos de Santiago I, Lisboa, 2016, p. 120-121
Imagem :TJ-Drydale
Poema deslumbrante, intenso e profundo. Gostei muito de ler.
ResponderEliminarCumprimentos
Muito belo este poema mas também muito íntimo.
ResponderEliminarUm abraço.