Talvez na sua vida o maior estímulo
fosse a curiosidade.
Era o motor de tudo: aproximava-se
de todas as mulheres que conhecia,
mas só lhe interessavam os seus corações.
Cultivava com método essa obsessão
e tal como as crianças costumam fazer
aos brinquedos preferidos,
também ele queria vê-los por dentro,
saber ao certo como funcionavam,
desfíbrar lentamente cada esperança,
dissecar com um rigor quase científico
cada angústia ou desejo inconfessável
até saborear o gosto sempre novo
de cada uma dessas células
Após cada experiência, observava
aqueles corações já desmontados
e, por não conseguir juntar as peças
guardava-as uma a uma no seu peito.
Era um lugar seguro
e com tantos pedaços de outras vidas
na sua pulsação descompassada
podia enfim acreditar
que tinha também ele um coração.
Autor : Fernando Pinto do Amaral
Imagem : Aneel Neupan
A curiosidade é uma qualidade preciosa necessária aos criadores.
ResponderEliminarUm abraço.