Não compreenderás a misteriosa fraqueza (que te confronta)
Não reconhecerás sequer o rosto
Não distinguirás, em difusa bruma, nenhuma utopia (evidente)
Nem uma única aspiração
Entenderás que existes, existes apenas,
E que, brevemente, também essa existente continuidade cessará
Sentirás, então, que presságio algum te estava destinado
E que era a ti, somente, que incumbia determinar o caminho
(Exceptuando, talvez, os contornos dos atalhos incontornáveis)
Perceberás, tardiamente, a instabilidade do percurso que percorreste
Escutarás o progressivo ruir dos territórios (que não poderás deter)
A iminente insurgência de um tempo absurdo
Como Sartre, compreenderás a frágil existência do destino figurado
Ser Nada, senão a razão dialética de uma responsabilidade crítica
Recordarás, enternecido, a candura inaugural
E, por um brevíssimo momento, serás o tempo pleno
A remota idade, a vida remotamente feliz
A época precedente à divergência das faces
Perceberás, mais tarde, a debilidade do sonho humano
Sentirás o progressivo desfazer dos fragmentos (que não saberás reter)
O gradual elevar do rosto inanimado
O levantamento de um tempo onde nenhum regressivo caminhar Te poderá regressar
Da vergada silhueta que (unicamente) subsistirá
Não reconhecerás sequer o rosto
Autor : Filipe Campos Melo
Imagem : Anke Herzbach
Deslumbrante, fascinante de ler
ResponderEliminar.
Feliz terça-feira de Carnaval. Saudações cordiais.
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Poema: “” É Carnaval: Brinque-se … ””…
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Achei este poema uma obra excepcional. Vou procurar mais coisas desta autora.
ResponderEliminarAliás, deste autor, o Google prega-nos partidas.
ResponderEliminarO autor tinha um blogue
ResponderEliminarhttp://porta-sonho.blogspot.com/
que creio ainda escreve lá de vez em quando.
mas tem uma vasta obra que é de grande qualidade.
:)