Quebrada a vara, fechei o livro
e não será por incúria ou descuido
que algumas páginas se reabram
e os mesmos fantasmas me visitem.
Fechei o livro, Senhor, fechei-o,
mas os mortos e a sua memória,
os vivos e sua presença podem mais
que o álcool de todos os esquecimentos.
Abjurado, recusei-o e cumpro,
na gangrena do corpo que me coube,
em lugar que lhe não compete,
o dia a dia de um destino tolerado.
Na raça de estranhos em que mudei,
é entre estranhos da mesma raça
que, dissimulado e obediente, o sofro.
Aventureiro, ou não, servidor apenas
de qualquer missão remota ao sol poente,
em amanuense me tornei do horizonte
severo e restrito que me não pertence,
lavrador vergado sobre solo alheio
onde não cai, nem vinga, desmobilizada,
a sombra elíptica do guerreiro.
Fechei o livro, calei todas as vozes,
contas de longe cobradas em nada.
Fale, somente, o silêncio que lhes sucede.
Autor : Rui Knopfli, in "O Corpo de Atena"
.Poema soberbo. Lindíssimo de ler.
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Abraço de amizade poética.
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Pensamentos e Devaneios Poéticos
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Um grande poema de um grande autor. Muito bem escolhido, merecida homenagem a que me associo.
ResponderEliminarO poema é magistral .. Obrigada pela partilha!! :))
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Não deixarei o meu silêncio denunciar
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Uma excelente noite
Beijos