Ando descalço sobre o nome da cidade.
Atravesso a rua. Uma sombra caminha ao meu encontro.
Toca-me e desfaz-se como um grito.
Vim de África há muitos anos e nunca regressei
à idade da minha partida.
Agora estou num parque, no fim de Novembro,
e o Inverno aproxima-se.
Sou um homem com a memória de um menino.
Às vezes chove na janela sem fim
dos anos que correram adiante de mim.
Mas estou aqui, no parque que escurece,
com o meu violino. As folhas dançam,
geladas; o silêncio tem a cor da neve.
Os sinais da minha respiração crescem entre as árvores
adormecidas.
Mesmo fria a luz canta, húmida.
Como um cão, beija-me as mãos.
Vou-me embora lentamente. Levo comigo
o teu nome, na minha boca e no meu peito.
Volto-me: os meus pés deixam na terra
o itinerário das aves.
Amo, murmuro aos ramos quebrados
deste dia enquanto o meu coração
te pede a viagem
de regresso ao poema.
Autor : Eduardo Bettencourt Pinto (2011-12-01)
Foto : Trey Brafford
Por que há tanta gente que ama e tanta gente desencontrada?
ResponderEliminarUm abraço.